domingo, 16 de agosto de 2009

PARALELISMO PROGRESSIVO - Interpretando corretamente o Apocalipse - Parte 1.

IMPORTANTE: O texto a seguir é de autoria de William Hendriksen (1900/1982). Renomado pastor, professor e autor de diversos comentários bíblicos, foi uma das maiores autoridades da atualidade na escatologia cristã.

Análise Geral.

I – As Sete Seções Paralelas.

1. Cristo no meio dos candeeiros (1:1-3:22)

O tema dos três primeiros capítulos do Apocalipse parece ser Cristo no meio dos sete candeeiros de ouro. Esses candeeiros representam as sete Igrejas (1:20). A cada Igreja João é levado a escrever uma carta (ver capítulos 2 e 3). Como esse número sete ocorre muitas vezes no Apocalipse, e é em todo lugar um símbolo daquilo que é completo, podemos ter como certo, com segurança, que esse é o caso aqui, e que ele indica a Igreja toda através de todo e espectro de sua existência até o próprio fim do mundo. Assim interpretada cada Igreja em particular é, por assim dizer, um tipo, não indicando um período definido na História, mas descrevendo condições que são constantemente repetidas na vida de diversas congregações. [1] Assim, essa seção parece perpassar toda a dispensação, da primeira vinda de Cristo para salvar o seu povo (1:5) à sua segunda vinda para julgar todas as nações (1:7). A última das sete cartas é escrita à Igreja em Laodicéia. É evidente que o capítulo 4 introduz um novo assunto – ainda que intimamente relacionado.

2. A visão do céu e dos selos (4:1-7:17)

Os capítulos 4-7 constituem a próxima divisão natural do livro. O capítulo 4 descreve aquele que está sentado no trono e a adoração daqueles que o cercam. Na mão direita do Senhor há um livro selado com sete selos (5:1). O Cordeiro toma esse livro e recebe adoração. Do capítulo 6 aprendemos que o Cordeiro abre os selos um a um. Entre o sexto e o sétimo selo temo a visão dos cento e quarenta e quatro mil que foram selados da incontável multidão postada ante o trono.
Deve-se notar cuidadosamente que essa seção também cobre toda a dispensação, da primeira à segunda vinda de Cristo. A primeira referência a Cristo retrata-o como sendo imolado, e, agora, como governando dos céus (5:5,6). Próximo do fim dessa seção é apresentado o juízo final. Observe a impressão da segunda vinda sobre os não-crentes:
“...e disseram aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós, e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono, e da ira do Cordeiro, porque chegou o grande dia da ira deles; e quem é que pode suster-se?” (6:16,17).
Agora, observe a bem-aventurança dos crentes:
“Jamais terão fome, nunca mais terão sede, não cairá sobre eles o sol nem ardor algum, pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vinda. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima” (7:16,17).
Esse é um retrato da Igreja triunfante toda, ajuntada de todas as nações e assim, em sua inteireza, postada diante do trono e diante do Cordeiro – um ideal que não é entendido até o dia da grande consumação. Temos, assim, perpassado toda a era do evangelho.

3. As sete trombetas (8:1-11:19)

A seção seguinte consiste dos capítulos 8-11. Seu tema central é: as sete trombetas que afetam o mundo. O que acontece com a Igreja é descrito nos capítulos 10 e 11 (o anjo com um pequeno livro, as duas testemunhas). Também, no fechamento dessa seção há uma clara referência ao juízo final.
“O sétimo anjo tocou a trombeta e houve no céu grandes vozes, dizendo: O reino do mundo tornou-se de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos... Na verdade, as nações se enfureceram; chegou, porém, a tua ira, e o tempo determinado para serem julgados os mortos, para se dar o galardão aos teus servos, os profetas, aos santos e aos que temem o teu nome, assim aos pequenos como aos grandes, e para destruíres os que destroem a terra” (11:15-18).
Tendo alcançado o fim da dispensação, termina a visão.

4. O dragão perseguidor (12:1-14:20)

Tudo isso nos leva aos capítulos 12-14: a mulher e o “filho varão” perseguidos pelo dragão e seus auxiliares. Essa seção também cobre toda a dispensação. Começa com uma clara referência ao nascimento do Salvador (12:5). O dragão ameaça devorar o filho varão. O filho é carregado para Deus e para o seu trono. O dragão, agora, persegue a mulher (12:13). Como seus agentes, ele emprega a besta que vem do mar (13:1), a besta que vem da terra (13:11,12) e a grande meretriz, Babilônia (14:8). Essa seção, também, termina com uma inspiradora descrição da segunda vinda de Cristo, para julgamento:
“Olhei, e eis uma nuvem branca, e sentado sobre a nuvem um semelhante a filho de homem, tendo na cabeça uma coroa de outro e na mão uma espada afiada... E aquele que estava sentado sobre a nuvem passou a sua foice sobre a terra, e a terra foi ceifada” (14:14-16).
5. As sete taças (15:1-16:21)

A seção seguinte compreende os capítulos 15 e 16, e descreve as taças de ira. Aqui, também, temos uma referência clara ao juízo final a aos eventos que ocorrerão em conexão com ele. Assim, lemos em 16:20:
“Toda a ilha fugiu e os montes não foram achados”.
6. A queda da Babilônia (17:1-19:21)

A seguir vem uma descrição vívida da queda da Babilônia e a punição infligida sobre a besta e o falso profeta. Observe a figura de Cristo vindo para julgar (19:11ss.).
“Vi o céu aberto, e eis um cavalo branco. O seu cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro, e julga e peleja com justiça”.
7. A grande consumação (20:1-22:21)

Isso nos leva a seção final, capítulos 20-22, pois Apocalipse 20:1 definitivamente começa com uma nova seção e introduz um novo assunto. [2] Esse novo assunto é a condenação do diabo. Uma comparação, sobretudo, com o capítulo 12 revela o fato de que, ao início do capítulo 20, estamos mais uma vez no limiar de nova dispensação. Enquanto em 12:9 nos é dito que, em conexão com a ascensão e a coroação de Cristo, o diabo é lançado à terra, aqui em 20:2,3, lemos que ele é preso por mil anos, sendo depois lançado no abismo. Os mil anos são seguidos por um tempo curto durante o qual Satanás é solto de sua prisão (20:7). Isso, por sua vez, é seguido da descrição da derrota final de Satanás em conexão com a vinda de Cristo para julgamento (20:10,11ss.). Nessa vinda, o presente universo, passando, deixa lugar para os novos céus e a nova terra, a nova Jerusalém (20:11ss.).
Uma leitura cuidadosa do livro do Apocalipse mostra claramente que o livro consiste de sete seções, e que essas sete seções correm paralelas umas às outras. Cada uma delas abarca toda a dispensação, da primeira à segunda volta de Cristo. Esse período é visto ora de uma perspectiva, ora de outra. [3]

continua...

[1] Ver W. Milligan, The Book of Revelation (Expositor's Bible),VI, p.836; E. H. Plumptre, The Epistles to the Seven Churches, p. 9; W. M. Ramsay, The Letters to the seven Churches of the Asia, pp. 30, 177ss.; R. C. Trench, Commentary on the Epistles to the Seven Churches in Asia, pp. 59ss.; C. F. Wishart, The Book of Day, p. 22.
[2] Ver Capítulo Quatorze, p. 245.
[3] Essa, visão, de uma forma ou de outra, é adotada por R. C. H. Lenski, op. cit., pp. 216, 240, 350, 358; S. L. Morris, The Drama of Christianity, p. 26; M. F. Sadler, The Revelation of St. John the Divine, pp. xvi.ss. Ver, além desses, B. B. Warfield, Biblical Doctrines, pp. 645, 661.

2 comentários:

  1. Infelizmente pouca gente conhece esse livro do Hendriksen. logo no início, quando explica o paralelismo progressivo, fica notávelpela explicação, a harmonia das seções . Foi lendo esse maravilhoso livro que fui cada vez mais me convencendo da da insustentável posição pré milenista, especialmente a visão dispensacionalista. Esse livro precisa ser mais conhecido. Esse poderoso livrinho deveria ser mais conhecido. Abraço.



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