domingo, 21 de junho de 2009

Conclusão do capítulo 9 de Daniel e o arrebatamento secreto, Parte 2.

...continuação.

IMPORTANTE: O texto a seguir é de autoria de David Martyn Lloyd Jones. Ele foi pastor da Capela de Westminster em Londres e mesmo depois de sua morte (1981) ele ainda é considerado um dos maiores pregadores da atualidade.

Acaso vocês não conseguem ver tudo isso no Novo Testamento? Admiro-me que alguém não consiga vê-lo. Olhem para as palavras: “extinguir a transgressão”. Não sobreveio a esse povo, em 70 d.C., um tipo de juízo final? Nosso Senhor o advertira, e finalmente chegou:
“Setenta semanas estão decretadas sobre o teu povo e sobre a tua cidade.”
E então o povo e a cidade sofreram juízo, e o tem sofrido desde então.
Em seguida temos: “dar fim aos pecados”. Não teríamos aqui nosso bendito e glorioso evangelho cristão? Durante esse período deu-se um fim ao pecado. Foi estabelecido na colina do Calvário o manancial para os pecados e impureza. Abriu-se a vereda da expiação. O caminho do perdão finalmente se abriu. E então visualizem-no por este outro prisma: “para expiar a iniqüidade”. O que é o evangelho que nos foi confiado? Ei-lo, diz Paulo:
“Pois que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo.” (2ªCo 5:19)
Daniel nos está fornecendo uma previsão daquilo que propriamente aconteceu durante esse período.
O que mais? Lemos: “e trazer a justiça eterna”. Vocês se lembram que o outro ponto de vista diz que a justiça da nação de Israel será eternamente estabelecida. Mas não recebemos tal informação. Simplesmente se nos diz que a justiça eterna será introduzida. Acaso a justiça eterna não foi introduzida por nosso bendito Senhor e Salvador, por Sua vida perfeita, por haver Ele feito uma oblação pelo pecado? A vereda da justiça de Deus, diz Paulo em Romanos, já começou. É o meu evangelho, diz o apóstolo:
“Porque no evangelho é revelada, de fé em fé, a justiça de Deus.” (Rm 1:17)
Eis a justiça eterna, e jamais haverá outra. É a justiça de Deus em Jesus Cristo, e é a única justiça que Deus reconhecerá ou que a humanidade conhecerá. Ela é, na verdade, uma justiça eterna.
E em razão da justiça introduzida por nosso Senhor, Ele “selará a visão e a profecia”. Cristo é o cumprimento das profecias.
“Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim destruir, mas cumprir.” (Mt 5:17)
Portanto, a profecia e a visão estão seladas, naturalmente, porque nosso Senhor é Aquele para quem todas elas apontam. Então, “e ungir o Santo dos santos”. E Ele foi ungido. As Escrituras neotestamentárias nos dizem especificamente que Deus O ungiu. Ele é o Messias. Portanto sugiro-lhes que o versículo 24 é inteiramente messiânico. É uma profecia do que aconteceria quando Cristo viesse realizar Sua obra perfeita.
O versículo 25 não apresenta dificuldade alguma; é perfeitamente claro. Ao chegarmos ao versículo 26, eis a informação que recebemos:
“E depois de sessenta e duas semanas será cortado o ungido, e nada lhe subsistirá”.
Ora, sabemos que foi o que exatamente aconteceu. E então?
“E o povo do príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário.”


E isso aconteceu literalmente. Tito era o nome do príncipe; e de uma forma terrível e quase diabólica ele e seus legionários romanos destruíram a cidade de Jerusalém e o templo. Josefo descreve o que aconteceu:
“Nunca houve sobre a terra um massacre tal como o que houve então, o sofrimento, a tribulação, a crueldade daquela guerra ainda se avolumam em toda a história”.
E eis aqui, admiravelmente, uma profecia desse evento.
E então vamos juntos para o versículo 27:
“E ele fará um pacto firme com muitos por uma semana; e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oblação”.
Ora, eu lhes apresentei o outro ponto de vista que sugere que essa é uma referência ao príncipe do povo que virá. Mas tentem experimentar isso – leiam esta seção em voz alta para alguém que não tem levado em conta a passagem e perguntem a quem o “ele” se refere. Porventura o sujeito de quem se faz referência em todo o parágrafo não seria o Messias? O outro príncipe surge e realiza sua obra, mas o tema, o sujeito, é o Messias. “Ele fará um pacto firme com muitos por uma semana” – e o Messias fez isso. Vocês recordarão que fizemos um grande esforço para enfatizar que a leitura correta é “confirmará” – não fará – “o pacto”. Ele estabelecerá um pacto que já estava em existência. E o Senhor Jesus Cristo não teria feito isso? O pacto da graça e da salvação retrocede a Abraão; aliás, retrocede ao jardim do Éden, como já vimos previamente (ver volume 1, Deus o Pai, Deus o Filho). O Senhor Jesus Cristo veio para confirmar esse pacto, e Ele o confirmou. Ele o estabeleceu. Ele o tornou sólido. Ele é a ratificação de todo o pacto. E o ratificou derramando Seu sangue, como o autor da Epístola aos Hebreus nos ensina (cap. 9). Oh, sim, e então prossegue:
“e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oblação.”
O grande antítipo havendo chegado, os tipos, naturalmente, não são mais necessários. Quando “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (João 1:29) veio e foi morto para fazer a oblação expiatória, as sombras e tipos não são mais necessários. Portanto, o sacrifício e a oblação são feitos para cessar e, de uma forma admirável, cessaram. Não existe templo, e os sacrifícios não são mais oferecidos. A oferenda final já foi feita, uma vez para sempre, como novamente o livro de Hebreus continua enfatizando e reiterando.
Mas de repente lemos isso:
“e sobre a asa das abominações virá o assolador, e até a destruição determinada, a qual será derramada sobre o assolador.”
Simplesmente isso. A conseqüência imediata da rejeição dEle pelos judeus foi que a cidade deles foi atacada e totalmente destruída, de modo que, em certo sentido, Ele mesmo lhes fez isso. Noutras palavras, existe um paralelo entre os versículos 26 e 27. Há duas seções para o versículo 26, e duas seções para o versículo 27. Na primeira metade do versículo somos informados acerca do Messias sendo cortado e nada restando; e, em conexão com isso, há uma terrível inundação, e a guerra com toda sua desolação que literalmente ocorreu em 70 d.C. E há uma repetição exata das mesmas duas coisas no versículo 27. Antes de tudo, o próprio Messias confirmando e ratificando o pacto e, por Sua morte, pondo fim aos sacrifícios; e em seguida, na segunda metade, a desolação e a guerra e a destruição que ocorreram. E tudo aconteceu literalmente em 70 d.C.

continua...

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Conclusão do capítulo 9 de Daniel e o arrebatamento secreto, Parte 1.

...continuação.

IMPORTANTE: O texto a seguir é de autoria de David Martyn Lloyd Jones. Ele foi pastor da Capela de Westminster em Londres e mesmo depois de sua morte (1981) ele ainda é considerado um dos maiores pregadores da atualidade.

Conclusão do capítulo 9 de Daniel e o arrebatamento
secreto.

Na preleção anterior, examinamos em detalhe a afirmação de Daniel 9:24-27, e simplesmente explicamos os termos a fim de realçar o seu significado. Vimos que existem três interpretações principais. Descartamos a primeira, porque ela não considera esses versículos como uma profecia, mas crê que são história escrita depois do evento. Não precisamos desperdiçar tempo com ela. Isso nos deixa com os dois ensinos principais e consideramos particularmente a interpretação que se tornou extremamente popular este presente século, tendo sido ensinada com renovado ímpeto desde cerca de 1830 pra cá.

Ora, segundo esse ensino, vocês se lembram, os eventos que são referidos no versículo 24 não ocorreram ainda, porém ocorrerão no futuro. Essa interpretação também ensina que há uma grande lacuna entre a sexagésima semana e a septuagésima semana, e diz que a septuagésima semana ainda não começou. A sexagésima nona semana está completa, mas toda a era da Igreja deve terminar antes que a septuagésima semana comece. Ela é assim chamada
teoria do intervalo.
A terceira ênfase desse ensino diz respeito à pessoa que é descrita no início do versículo 27:

“E ele fará um pacto firme com muitos por uma semana; e na metade da semana fará cessar o sacrifício e a oblação; e sobre a asa das abominações virá o assolador; e até a destruição determinada...”
Os amigos que defendem esse ensino dizem que o “ele” é o príncipe descrito no versículo 26:
“E depois de sessenta e duas semanas será cortado o ungido, e nada lhe subsistirá (não lhe ficará nada) – noutros termos, ele ficará sozinho – e o povo do príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário, e o seu fim será com uma inundação; e até o fim haverá guerra; estão determinadas assolações”.
E quando será que “ele” introduzirá os eventos do versículo 27? Bem, como já vimos, diz-se que tudo isso pertence ao futuro e ocorrerá durante a septuagésima semana. Durante os primeiros três anos e meio da septuagésima semana, esse príncipe fará um pacto com o povo de Deus. Por esse tempo todos os judeus terão regressado à Palestina, tendo empreendido a reconstrução do seu templo e tendo reintroduzido seus sacrifícios de animais; e esse príncipe terá consumado um pacto com todo o povo de Deus. Subitamente, porém, na metade da semana ele voltará atrás em sua palavra. Quebrando seu próprio pacto, ele passará a persegui-los de uma forma terrível e continuará a agir assim durante os três anos e meio seguintes. Nesse ínterim, porém, o Senhor regressará e destruirá o príncipe, libertando Seu povo, e será introduzido o milênio. Essa é a essência desse ensino com respeito a essa seção do nono capítulo de Daniel.
Ao focalizarmos esse ponto de vista, desejo que consideremos também outro método possível de expor e explicar esses grandes versículos. O problema que de pronto nos confronta, obviamente, é a questão de “a lacuna”. As Escrituras não dizem realmente que haverá uma lacuna; tudo o que elas dizem é:

“E depois de sessenta e duas semanas será cortado o ungido”.
“Mas”, dizem os expoentes da teoria do intervalo, “as Escrituras não dizem que não haverá nenhum intervalo.”
Ora, isso de forma alguma satisfaz.

“Bem”, dizem eles, “mas as Escrituras também afirmam que há certa divisão entre as semanas sexagésima nona e a septuagésima.”

Plenamente correto, porém as Escrituras também afirmam que existe certa divisão entre as sete e as sessenta e duas:

“Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém até o ungido, o príncipe, haverá sete semanas, e sessenta e duas semanas”.
Por que Gabriel não disse: “sessenta e nove semanas”? Entretanto não disse. As sessenta e nove semanas são divididas exatamente do mesmo modo que a semana sexagésima nona é dividida da septuagésima semana. Sim, mas mesmo as pessoas cuja teoria estamos considerando não dizem que existe qualquer lacuna entre as sete e as sessenta e duas semanas. Concordam que as sessenta e duas semanas procedem diretamente das sete semanas, e dizem que as sete provavelmente se referem à reconstrução de Jerusalém e então as sessenta e duas, ao período do fim da reconstrução até a vinda do Messias, o Príncipe. Mas de repente somos informados que existe uma lacuna entre a sexagésima nona semana e a septuagésima que já se estendeu por quase dois mil anos e poderá estender-se ainda mais.
Solicito que vocês ponderem cuidadosa e seriamente a teoria do intervalo. Isso lhes parece ser uma forma justa de expor as Escrituras? Essa forma se lhes sobressai como algo que surge naturalmente da presente declaração diante de nós? Confesso que eu mesmo acho extremamente difícil aceitar tal ponto de vista em virtude de parecer-me que a relação entre as sessenta e duas semanas e as sete semanas é exatamente a mesma que a relação entre as sessenta e nove semanas e a septuagésima semana.

Portanto, deixem-me sugerir-lhes que existe outra forma de considerar essa grande afirmação que, parece-me, realmente nos transmite grande conforto e é uma prova da veracidade da profecia, visto que ela já se cumpriu. Tomem o versículo 24:

“Setenta semanas estão decretadas sobre teu povo, e sobre a tua santa cidade”.
Imediatamente vem a lume uma sugestão de que algo extremo e drástico está para acontecer a esse povo e à sua cidade, durante setenta semanas. O que está para acontecer? Primeiro, “extinguir a transgressão”, conduzi-la a um termo final. Então, “dar fim aos pecados”, tratar dos pecados, preparar uma forma de perdão. Em seguida, “para expiar a iniqüidade, e trazer a justiça eterna, e selar a visão e a profecia”. Finalmente, “para ungir o Santo dos santos”.

continua...

segunda-feira, 8 de junho de 2009

A interpretação de Daniel 9:24-27, Parte 4.

...continuação.

IMPORTANTE
: O texto a seguir é de autoria de David Martyn Lloyd Jones. Ele foi pastor da Capela de Westminster em Londres e mesmo depois de sua morte (1981) ele ainda é considerado um dos maiores pregadores da atualidade.


Somos ainda informados no versículo 27 que na metade da semana “Ele fará cessar o sacrifício e a oblação”. Algo está para acontecer em conseqüência da ação dessa pessoa que porá fim aos sacrifícios e oblação. E a última de que somos informados é que “sobre a asa das abominações virá o assolador; e até a destruição determinada, a qual será derramada sobre o assolador”. Ora, neste ponto a Authorised Version é confusa. A Revised Version, que é muitíssimo superior, traduz: “e sobre a asa das abominações virá aquele que faz assolação”. Essa é uma tradução muito excelente, e na margem da Revised Version há talvez uma nota ainda muito melhor, ou seja: “Sobre o pináculo das abominações virá Um (ou será Um) que fará assolação e até mesmo consumação, e que determinada ira será derramada sobre a desolação e o assolador”. Eis as reais afirmações que nos confrontam. Ora, as palavras: “sobre a asa das abominações”, ou “sobre o pináculo das abominações” são seguramente uma referência à destruição do templo. Começando no próprio pináculo, o templo iria ser completamente destruído.

A grande pergunta que se suscita é esta: qual é a interpretação dos versículos 26 e 27? Há duas escolas principais de pensamento, e os argumentos giram em torno disto: quando ocorrerá a septuagésima semana? O profeta falou de sete e sessenta e duas, mas isso perfaz só sessenta e nove. Quando ocorrerá a semana restante?

Eis outra pergunta que formulamos: os eventos que se acham descritos no versículo 26 ocorrerão na septuagésima semana? Tudo o que somos informados é que ocorrerão “depois de sessenta e duas semanas”, mas lembrem-se de que depois das sessenta e duas semanas vêm as sete, significando que os eventos se concretizarão depois de sessenta e nove semanas. A passagem não diz realmente que os eventos ocorrerão na septuagésima semana, nem se diz que não ocorrerão então. Tudo o que realmente diz é que ocorrerão depois da sexagésima nona semana. Significaria na septuagésima semana? Eis aí a grande questão.

E o terceiro problema em pauta é: quem é “ele” no início do versículo 27?

“E ele fará um pacto firme com muitos por uma semana.”
Esse “ele” referiria ao Messias no versículo 26? Ou se refere ao príncipe de quem lemos na segunda metade do versículo 26?
Ora, o ponto de vista daqueles que não crêem na divina inspiração das Escrituras, e daqueles que não crêem que a profecia sempre significa predição, é que não podem facilmente explicar tudo isso dizendo que os eventos já há muito aconteceram, e ainda aconteceram antes do nascimento de nosso Senhor e Salvador. Isso, dizem eles, não é senão um relato do que foi feito por um homem chamado Antíoco Epífanes, sendo o ungido um dos sacerdotes de Israel que foi morto por ele. Não é necessário, porém, que gastemos muito tempo em considerar esse ponto, porque ele simplesmente se baseia em pressuposições que excluem a possibilidade de predição e, na verdade, minam a crença na inspiração das Escrituras.

Por isso temos de considerar dois pontos de vista: primeiramente, o ponto de vista que se tornou popular – e continua sendo muito popular entre muitas pessoas – oriundo das conferências de 1830. Aí não posso fazer nada melhor do que ler para vocês uma declaração desse ponto de vista:

“Essas são semanas ou, mais acuradamente, “setes de anos”, setenta semanas de sete anos cada uma. Dentro dessas semanas o castigo nacional deve ser concluído e a nação estabelecida em justiça eterna”.
Pergunto: vocês percebem a significação disso? Diz-se que a nação será restabelecida em justiça eterna. Nesse ponto, porém, alguns de nós querem propor uma questão. Não nos é dito que a nação será restabelecida em justiça eterna; o que se nos diz é que a justiça eterna será introduzida, o que não é a mesma coisa. Mas, vejam, se começarem com a teoria de que os judeus se destinam a ter um lugar especial no reino de Deus, e que Deus ainda Se preocupa com eles de uma maneira especial, e que entrarão no reino por uma porta especial, e assim por diante; então, com certeza vocês terão que enxertar essa idéia em toda parte.
Ora, não nos é possível tratar desse tema por inteiro nesta preleção, mas deixem-me ler o restante dessa exposição para que vocês possam considerá-la quando tratarmos dela na próxima preleção. Ela diz que as setenta semanas são assim divididas: sete (quarenta e nove anos); sessenta e duas (434 anos); uma (sete anos). Nas sete semanas (os quarenta e nove anos) Jerusalém tinha que ser reconstruída em tempos angustiosos (aí, como eu já disse, todos nós concordamos). Isso já se cumpriu como Esdras e Neemias registraram. Sessenta e duas semanas equivalem a 434 anos, e depois disso o Messias tinha que vir. Isso se cumpriu no nascimento e manifestação de Cristo (concordamos novamente). Mas agora, o versículo 26, dizem eles, é obviamente um período indeterminado. Pergunto: seria claro para vocês que o versículo 26 deve ser um período indeterminado? Aí surge uma dúvida. A declaração desse ponto de vista continua:

“A data da crucificação não é fixada; apenas se diz ser depois das sessenta e duas semanas. É o primeiro evento no versículo 26. O segundo evento é a destruição da cidade – cumprido em 70 d.C. Então, mais para o fim vem um período que não é fixado, mas já têm durado quase dois mil anos. A Daniel só foi revelado que guerras e assolações continuariam. Os profetas neo-testamentários revelaram que isso foi ocultado aos profetas veterotestamentários, que durante esse período seriam concretizados os mistérios do reino do céu e o chamamento da Igreja”.
Vejam que esse ponto de vista nos diz que o Velho Testamento nada sabe acerca da Igreja, nada a respeito dos gentios entrando e sendo abençoados e salvos. Prossegue:
“Quando a era da Igreja terminar e começar a septuagésima semana” – percebem a implicação?
Diz-se que há uma grande lacuna de pelo menos dois mil anos entre o fim da sexagésima nona semana e o início da septuagésima semana – uma lacuna introduzida pela interpretação. Somos então informados que o fim desse tempo, quando a era da Igreja terminar e a septuagésima semana tiver começado, é em parte alguma revelado. Dizem:
“Sua duração só pode ser de sete semanas; torná-la maior viola o principio de interpretação já confirmado pelo cumprimento”.
O versículo 27 trata da última semana, e os defensores do ponto de vista que estamos considerando nos dizem dogmaticamente que o “ele” do versículo 27 é “o príncipe que virá” (v. 26), “cujo povo, Roma, destruiu o templo em 70 d.C. Ele é o mesmo”, nos dizem novamente, “pequeno chifre do capítulo 7” – falamos sobre isso na preleção anterior.
“Ele fará aliança com os judeus para restaurar os sacrifícios em seu templo por uma semana” – de fato, não somos informados disso no versículo 27. Mas na metade desse tempo ele quebrará a aliança e cumprirá Daniel, capítulo 12, e Tessalonicenses, capítulo 2. Entre a sexagésima nona semana, dentro da qual o pequeno chifre de Daniel, capítulo 7, concluir seu terrível curso, se interpõe toda a era da Igreja. O versículo 27 trata dos últimos três anos e meio dos sete que são idênticos com a grande tribulação do capítulo 24 de Mateus, o tempo da angústia do capítulo 12 de Daniel, e a hora da tentação do capitulo 3 do Apocalipse.”
Aí está, pois, o ponto de vista tão comumente aceito hoje como a interpretação deste capítulo. Ora, antes de passar a expressar as críticas a esse ponto de vista e recordar-lhes com detalhe a interpretação tradicional protestante antes de 1830, precisamos tentar ponderá-la. As perguntas que vocês devem conservar em mente são as seguintes:

O programa delineado no versículo 24 já se concretizou?

O que dizer das coisas descritas no versículo 26?
Quem é o “ele” no início do versículo 27?
Porventura os eventos descritos no versículo 26 aconteceram na septuagésima semana ou num suposto intervalo entre o fim da sexagésima nona semana e o inicio da septuagésima?
Existiria mesmo uma grande lacuna entre a sexagésima nona semana e o início da septuagésima semana?


Ponderem consigo mesmos sobre essas coisas. Uma parte desse esquema de interpretação, interpretação essa que, como eu já disse, dá aos judeus um lugar especial no eterno propósito de Deus e na vinda do reino é a crença de que o templo será reconstruído em Jerusalém, e sacrifícios cruentos serão introduzidos novamente. Os proponentes desse ponto de vista não aceitam minha interpretação do anticristo apresentada na preleção anterior, mas consideram o anticristo como uma figura inteiramente futura, e associam isso como uma interpretação semelhante do livro do Apocalipse.

O tema é difícil e envolvente, mas uma vez lançado estes princípios e este fundamento, ser-nos-á bem mais fácil prosseguir.


continua...

sexta-feira, 5 de junho de 2009

segunda-feira, 1 de junho de 2009

A interpretação de Daniel 9:24-27, Parte 3.

...continuação.

IMPORTANTE: O texto a seguir é de autoria de David Martyn Lloyd Jones. Ele foi pastor da Capela de Westminster em Londres e mesmo depois de sua morte (1981) ele ainda é considerado um dos maiores pregadores da atualidade.

O que, pois, acontecerá durante esse período de setenta “setes”? Somos informados que seis coisas acontecerão, três negativas e três positivas, e são todas elas apresentadas no versículo 24. As três coisas negativas são: primeira, “extinguir a transgressão”, que significa ser eliminada, dar-lhe um fim. Segunda, “dar fim aos pecados”, que significa, por certo, que os pecados estão para ser perdoados; chegarão a um fim, porque serão tratados; serão lacrados; serão extintos. Isso nos leva à terceira coisa, que é: “para expiar a iniqüidade”. Há necessidade de reconciliação. O homem, por causa do pecado, tornou-se estranho a Deus, seu pecado se interpôs entre ele e Deus, e tem de ser removido. Acontecerá algo que porá a iniqüidade de lado, e o homem será reconciliado novamente com Deus. Aí estão as negativas.

Agora, porém, focalizaremos as três positivas. A primeira é: “trazer a justiça eterna”. Que frase grandiosa é essa! A justiça precisa ser introduzida. Ela não está aqui, mas virá; ela faz parte da profecia. Fico nisso por enquanto; continuarei mais tarde. A segunda coisa positiva é: “selar a visão e a profecia”. Selar significa encerrar, concluir, completar. A visão e a profecia caminham para um fim. Deixarei a explicação para depois; agora estou simplesmente apresentando as coisas. E a terceira coisa positiva é: “ungir o Santo dos santos”. Algumas pessoas diriam que isso significa o lugar santíssimo, mas a melhor sugestão é que uma pessoa santíssima será ungida. Essas, pois, são as seis coisas que nos dizem ocorrerão durante esses setenta “setes”.
E assim, no versículo 24 nos é apresentado um programa. Agora, porém, chegamos às perguntas vitais: como e quando tudo isso irá acontecer? E a resposta nos é dada nos versículos 25, 26 e 27. Partimos do versículo 25:

“Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém até o ungido, o príncipe, haverá sete semanas, e sessenta e duas semanas; com praças e tranqueiras se reedificará, mas em tempos angustiosos”.
Ora, a primeira coisa que notamos aqui é a frase: “desde a saída da ordem”. O que se pretende por essa “saída” da palavra? É aqui que surge a discordância. As pessoas que se sentem desejosas de formar um número exato de 490 anos se vêem obrigadas a diferir entre si quanto ao método de interpretar esta frase. Há quem diga que a saída aconteceu no primeiro ano de Ciro, o que equivale a 538 a.C. Outros dizem que significa o vigésimo ano de Artaxerxes, o que equivale a 445 a.C. Mas, nem uma parte nem a outra podem apresentar prova, e outras pessoas têm ainda outras idéias. Tudo o que sabemos é que o início é marcado por dar ou enviar a ordem. Quando foi isso? A interpretação mais óbvia é que esse foi o tempo quando Deus deu Sua primeira ordem a Ciro, mas não se segue necessariamente que isso foi quando começou a concretizar-se. Antes, foi durante o primeiro debate, durante a primeira indicação, quando Deus primeiro mostrou que tal coisa ia ser feita. Não podemos, porém, prová-lo, e portando quão perigoso é tentar fixar datas! Tudo o que sabemos é que desde a saída da primeira declaração sobre isso até a vinda do Messias, o Príncipe, teria havido um período de sete semanas e sessenta e duas semanas.
Pois bem, observem este termo: “o Messias, o Príncipe”. Na Revised Version, ele é traduzido “o ungido, o Príncipe”, sendo que ungido, tem o mesmo significado que Messias. Contudo é interessante observarmos que a pessoa é descrita como alguém que é a um e ao mesmo tempo ungido profeta e Príncipe, e isso claramente fixa Aquele a quem se refere. O Príncipe não é outro senão nosso próprio Senhor e Salvador Jesus Cristo. E sobre esse ponto, creio eu, a maioria das pessoas concorda.

“Mas”, perguntaria alguém, “por que essa divisão de sete semanas, sessenta e duas semanas, e no versículo 27, uma semana?”.

As setenta semanas são divididas por nós: sete, sessenta e duas e o restante de uma semana. As primeiras sete cobrem o período da atual reconstrução da cidade destruída de Jerusalém. Os caldeus a haviam destruído, e o remanescente que voltou reconstruiu os muros, a cidade e o templo. Portanto, evidentemente a primeira divisão de sete cobre isso.

Então, seguindo isso, há sessenta e duas semanas para a vinda do Messias e Príncipe, que é evidentemente uma referencia ao primeiro advento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Não há muita dificuldade sobre isso, e a maioria das pessoas está disposta a concordar.

Mas quando chegamos ao versículo 26, não há mais acordo algum. Lemos que

“Depois de sessenta e duas semanas será cortado o ungido, e nada lhe subsistirá”.
Ora, essa frase: “nada lhe subsistirá” deve ser lida: “não terá nada”, e isso é como está traduzido na Revised Version. Significa que ele não terá nada que Lhe pertença, nada que possa reivindicar para Si. Essa é a primeira parte da declaração.
O versículo continua dizendo:

“...e o povo do príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário; e o seu fim será com uma inundação; e até o fim haverá guerra; estão determinadas desolações”.
E é aqui que existe grande divisão e discordância. A exposição tradicional protestante e reformada é que essa é obviamente uma referência à destruição da cidade de Jerusalém pelo exercito romano em 70 d.C., durante o reinado do imperador Tito. Observem que no versículo 26 essas palavras vêm imediatamente após a afirmação de que o Messias será morto – precisamente como os eventos de 70 d.C. vieram logo após a morte de nosso Senhor. No entanto, segundo a nova escola de pensamento que teve início em 1830, essa é uma referência a algo que ainda está para acontecer. Entretanto, mantenhamos isso em mente por um instante, e avancemos para o versículo 27:
“E ele fará um pacto firme com muitos por uma semana”.
Ora, nesse caso também não existe uma boa tradução. Talvez a melhor forma de colocá-la seja esta: “Ele fará o pacto firme”, ou “Ele fará o pacto prevalecer”. O importante é que não leiamos: “Ele fará um pacto”. O significado é muito mais forte que isso. A Authorized Version traduz por confirmado, o que comunica uma sugestão correta, mas com muita freqüência pessoas o interpretam como: “Ele fará um pacto”. E não é isso que nos é transmitido. A sugestão é que já havia um pacto em existência o qual Ele fará firme. Ele o estabelecerá. Ele está para torná-lo eficaz.

continua...
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