sábado, 31 de julho de 2010

CAPÍTULO IV - Os reformadores e o milênio.

...continuação.

Importante: O texto a seguir é de autoria do Rev. William J. Grier (1868-19??).

Ao comentar o capítulo 20 do Apocalipse, Agostinho explicou o fato de Satanás ser atado como o cumprimento das palavras de Jesus:
"Como pode alguém entrar na casa do valente e saquear seus bens, se primeiro não manietar o valente?"
Ele considerava o reinado dos santos com Cristo como um fato atual, presente. Sua interpretação foi mui largamente aceita pela Igreja, durante os séculos seguintes. Pondera dr. Shedd que durante a Idade Média dificilmente se pode descobrir a existência de milenismo como doutrina. Ao se aproximar o ano 1.000, generalizou-se (citamos Shedd) um...
"...temor indefinido e certa tensão entre as massas ante a idéia de que aquele ano seria o da segunda vinda do Senhor."
Isso não se deveu a qualquer crença em pré-milenismo, mas à noção largamente difundida de que os mil anos citados no capítulo 20 do Apocalipse haviam começado com o nascimento de Cristo, sendo o estabelecimento da Igreja Cristã considerado como a "primeira ressurreição." Por esse motivo, esperava-se que o ano 1.000 trouxesse o fecho da História. Passou-se o ano e os que tinham jogado fora seus tesouros e abandonado propriedades como coisas sem qualquer valor passaram ao extremo oposto. Puseram-se a construir em grandes proporções, como se este mundo fosse durar eternamente. Quando ocorreu a Reforma, de novo surgiu o milenismo. Passou a fazer parte da teologia dos violentos Anabatistas. Os Reformadores opuseram-se firmemente ao ensino dessa seita. A Confissão de Augsburgo, preparada por Melancthon, aprovada por Lutero e submetida ao Imperador e aos regentes da Alemanhã como a Confissão da Fé Protestante, condenou o milenismo como "uma opinião judaica", rejeitando-a, bem como a outra doutrina anabatista de um castigo futuro limitado. A "Confissão de Eduardo VI" da Inglaterra, da qual foram, mais tarde, condensados os 39 Artigos, também condena o milenismo, nos seguintes termos:
"Os que tentam reviver a fábula do milênio se opõem às Sagradas Escrituras, atirando-se imprudentemente aos absurdos judaicos."
Calvino demonstra desprezo pelas idéias pré-milenistas, ao dizer, no capítulo acerca da "Ressurreição Final", nos suas "Institutas", que Satanás tem tentado corromper a doutrina da ressurreição dos mortos usando várias ficções. E acrescenta:
"Não é preciso mencionar que começou a se opor a ela já nos dias de Paulo; não muito depois, fez surgirem os Milenistas, que limitaram o reino de Cristo a mil anos. Essa ficção é demasiado pueril para exigir ou merecer refutação."
A "Confissão Belga", amplamente adotada na Holanda, na Bélgica e na Alemanha, preserva a doutrina da segunda vinda de Cristo pelo ensino de que o seu tempo é desconhecido de todos os seres criados e só ocorrerá quando estiver completo o número dos eleitos. Isso protege contra uma das piores características do pré-milenismo, a saber, que haverá salvação depois da volta de Cristo aos Seus. A "Segunda Confissão Helvética", adotada na Suiça, Escócia, Hungria, França, Polónia e Boêmia, diz, em linguagem muito forte:
"Rejeitamos os sonhos judaicos de que antes do Dia do Juízo haverá uma idade áurea na terra, e que os santos tomarão posse dos reinos do mundo, depois de terem sido subjugados os seus inimigos, os ímpios."
A Confissão prossegue, citando as Escrituras contra tais "fantasias judaicas".
Em verdade, quando, durante a Reforma, os homens voltaram à Palavra
de Deus, lá não encontraram milenismo.
Em último lugar, consultemos o Catecismo Maior dos Teólogos de Westminster:
"Cremos que no último dia haverá uma ressurreição geral dos mortos, tanto dos justos como dos maus, quando os que estiverem vivos serão transformados num momento e os mesmos corpos dos mortos que estiverem nos túmulos serão reunidos às suas almas para sempre, ressuscitados pelo poder de Cristo. Os corpos dos justos, pelo Espírito de Cristo e pela virtude da Sua ressurreição como Cabeça deles, serão erguidos em poder — espirituais, incorruptíveis e tornados semelhantes ao Seu corpo glorioso; e os corpos dos ímpios serão ressuscitados em desonra, por Ele, como um Juiz ofendido."

"Imediatamente após a ressurreição haverá o julgamento geral e final de anjos e homens. Esse é um dia e essa, uma hora inteiramente desconhecidos dos homens, para que todos vigiem e orem, e estejam sempre preparados para a vinda do Senhor." (Respostas, 87 e 88)."
Os Teólogos de Westminster apoiam essa declaração com uma convincente relação de provas escriturísticas.
A posição histórica Protestante não é milenista. Pelo contrário, insiste em que a segunda vinda de Cristo será o sinal para o julgamento geral e final.


continua...

quarta-feira, 28 de julho de 2010

CAPÍTULO III - Os pais e o milênio.

...continuação.

Importante: O texto a seguir é de autoria do Rev. William J. Grier (1868-19??).

Dr. Charles Feinberg, um dos mais recentes advogados do pré-milenismo, assegura ser fato admitido que "durante os três primeiros séculos a Igreja toda, quase que como uma só pessoa, era pré-milenista." Os escritos da Igreja primitiva foram traduzidos e qualquer leitor pode ter acesso a eles e verificar, por si mesmo, se foi realmente assim. Ser-nos-á interessante saber o que ensinavam os homens do tempo mais próximo dos apóstolos, nos dias da pureza da Igreja primitiva — homens como Clemente de Roma, considerado por alguns como sendo o companheiro do apóstolo Paulo citado em Filipenses 4:3, e Policarpo de Smirna, discípulo do apóstolo João que dizia ter convivido com pessoas que tinham visto o Senhor. A primeira Epístola de Clemente é, algumas vezes, datada até do ano 90. Outros julgam que tenha sido escrita em 97. Foi tida em grande consideração nos tempos antigos, aliás, merecidamente. Clemente menciona a segunda vinda de Cristo e uma ressurreição futura. Não faz, porém, a menor alusão a duas ressurreições ou a uma ressurreição dos justos apenas ou, ainda, a um reino de mil anos aqui na terra. A chamada segunda Epístola de Clemente foi escrita, provavelmente, entre os anos 120-140. Faz referência à segunda vinda de Cristo, à ressurreição, ao juízo e à vida eterna, mas não diz uma palavra sequer sobre milênio na terra. O reino de que trata não é desta terra nem deste tempo. Nele, as promessas serão plenamente cumpridas — coisas que o olho não viu, nem o ouvido ouviu, nem penetraram no coração do homem. Policarpo escreve (cerca do ano 110 da nossa era) a respeito de Cristo da seguinte maneira:
"A Ele estão sujeitas todas as coisas no céu e na terra. A Ele serve todo espírito. Vem como Juiz dos vivos e dos mortos. Seu sangue será requerido por Deus daqueles que nEle não crêem. Mas Aquele que O ressuscitou dos mortos nos ressuscitará também."
Policarpo parece esperar um Juízo geral, quando Cristo voltar. Não usa de uma só palavra com respeito a um reino milenário na terra. Inácio, de cuja pena temos muitas cartas, escritas às vésperas de sua morte na arena em Roma, estava absorvido pela perspectiva gloriosa de morrer como mártir. Escreve: "Estes são os últimos tempos". Não diz, no entanto, coisa alguma acerca dos acontecimentos finais. Como quer que seja, Dr. Feinberg não encontra em Inácio o menor apoio. O "Didaquê" ou "Ensino dos Doze Apóstolos" é um manual da Igreja, que foi preparado bem no princípio do segundo século. Damos a seguir o que diz, no 16º capítulo, sobre o fim do mundo:
"Estai alertas. Não permitais que vossas lâmpadas se apaguem, nem estejam desatados vossos cintos, mas permanecei prontos, pois não sabeis a hora em que o Senhor virá... Nos últimos dias multiplicar-se-ão os falsos profetas e os assoladores... quando a impiedade aumentar, eles odiarão e perseguirão e um ao outro entregará. Então, aparecerá o enganador do mundo, apresentando-se como Filho de Deus, e fará sinais e maravilhas, e a terra lhe será entregue. E cometerá iniquidades como jamais houve desde o começo do mundo."

"Então, a humanidade entrará no fogo da tribulação e muitos se escandalizarão e perecerão. Mas aqueles que perseverarem na fé serão salvos, apesar da tribulação."

"Depois, aparecerá o sinal da verdade; primeiro, o sinal dos céus abertos; depois, a voz da trombeta e, em seguida, a ressurreição dos mortos. Não de todos, porém, como foi dito: "O Senhor virá e todos os Seus santos com Ele. Então, o mundo verá o Senhor vindo sobre as nuvens do céu."

Esse trecho ensina a vinda de um Anticristo pessoal, nele chamado "o enganador do mundo." As provações que ele trará não serão apenas para os Judeus ou os "santos em tribulação", conforme geralmente afirmam os pré-milenistas, mas para toda a raça humana. E não existe, absolutamente, a menor indicação de um "arrebatamento secreto" antes do início desse período.
Insiste-se, todavia, em que aparece aí, no "Didaquê" uma distinção entre a ressurreição de santos e a de ímpios e os pré-milenistas se apressam a inserir os seus mil anos entre as duas. Enganam-se, contudo, na interpretação. A verdade é que a ressurreição dos santos é o último sinal precedendo a vinda do Senhor. Outros, além dos pré-milenistas, podem concordar com essa forma de expressão. O não-milenista Dr. Vos, na sua "Escatologia Paulina", comentando 1ªCor. 15:23,24, diz:
"Deve-se presumir que pelo menos um intervalo breve terá de se verificar entre a ressurreição dos santos e 'o fim'".
Não obstante, logo a seguir, ele insiste em que isso não autoriza, de forma alguma, o período "arredondado" de mil anos.
O "Didaquê" não faz qualquer alusão a um milênio na terra. Parece claro que se o seu autor tivesse crido nisso, o teria dito. Quem, algum dia, encontrou um pré-milenista que conseguisse deixar de se referir ao assunto? É um ponto de relevante importância em sua crença e ele se sente coagido a mencioná-lo.
A Epístola de Barnabé foi escrita na primeira metade do segundo século. Tem sido citada como pré-milenista. A passagem que vamos transcrever não confirma tal alegação:
"O Senhor julgará o mundo sem acepção de pessoas. Cada um receberá segundo o que houver feito: se for justo, sua justiça o precederá; se iníquo, encontrará a recompensa da sua iniquidade."
Isso dá impressão de um julgamento geral. Isto também:
"Virá o dia em que todas as coisas perecerão com o Maligno. O Senhor está próximo, trazendo a Sua recompensa."
Insiste, ainda, com os seus leitores no sentido de procurar saber o que Deus requer deles e "fazê-lo, de forma a estarem seguros, no dia do Juízo."
O esquema histórico de Bamabé foi moldado pelo da semana da Criação, constante do capítulo 1 de Gênesis. A expressão: "E terminou em seis dias" significa, diz ele, que "Deus terminará todas as cousas em seis mil anos. As palavras: "Descansou no dia sétimo" contêm o significado profético de que quando Cristo voltar "destruirá o tempo dos maus e julgará os ímpios e mudará o sol e a lua e as estrelas. Então, realmente descansará no sétimo dia."
Os pré-milenistas consideram esse sétimo dia o milênio, mas estará algum deles disposto a admitir que o milênio é introduzido pelo julgamento dos ímpios, segundo afirma Barnabé com respeito ao sétimo dia? De acordo com a Epístola de Barnabé, o sétimo dia não chegará antes de que "não haja mais impiedade, e todas as cousas se tenham tornado novas." O oitavo dia é "o princípio de um novo mundo." Contudo, toda a distinção entre o sétimo e o oitavo dias parece desaparecer, quando Barnabé declara que Deus, ao dar descanso a todas as coisas (o que acontece no dia sétimo), "faz começar o oitavo dia, isto é, o princípio de um novo mundo."
Um fato, de qualquer forma, está bastante claro: Barnabé não admite a possibilidade de um milênio na terra, durante o qual homens não regenerados viverão sob o reinado de Cristo. É evidente, outrossim, sustenta ele, como todos os da sua época, que os Cristãos e não os Judeus são os herdeiros do concerto. Curioso é observar que o Prof. D. H. Kromminga, um pré-milenista, diz poder-se presumir ter sido Barnabé o que hoje chamamos um "amilenista."
A Epístola a Diognetus — bela e pequenina — fala de um reino futuro, mas no céu, e que será dado aos que amam a Cristo.
Em sua História Eclesiástica, Eusébio, o culto historiador do 4º século, se refere a uma tradição narrada por um escritor eclesiástico de alto coturno, chamado Higesippus. Essa tradição diz respeito a dois membros "da família de Nosso Senhor, netos de Judas, Seu irmão." Contava-se que eram da família de Davi e o rumor da existência de descendentes da família real alarmou o Imperador Domiciano (A.D. 81-96). Foram levados a sua presença e ele lhes perguntou se eram da raça de Davi e quais as propriedades e de que dinheiro dispunham. Embora da linhagem real, tinham apenas um terreno de 39 acres (aproximadamente 16 hectares). Mostraram-lhe as mãos calejadas, como prova do seu trabalho. Quando inquiridos a respeito do reino de Cristo, em que época e onde deveria surgir, responderam que...
"...não seria um reino terreno ou temporal, mas celestial e angélico; que apareceria no fim do mundo quando, vindo em glória, Ele julgaria os vivos e os mortos e daria a cada um conforme as suas obras."
Esses dois ilustres personagens do fim do primeiro século não criam, é óbvio, em um milênio na terra.
Na primeira metade do segundo século, há, realmente, apenas dois escritores que podemos apontar, com alguma segurança, como crendo num futuro reino de Cristo na terra por mil anos — Papias e Justino, o Mártir. Houve, também, sem dúvida, o herege Cerinthus.
A Ireneu e Eusébio devemos alguns fragmentos do que escreveu Papias. Ele descreve, em linguagem extravagante, a fertilidade da terra (dez mil por um) durante o milênio. Diz Eusébio que...
"...Papias narrou algumas parábolas estranhas de Nosso Senhor e da Sua doutrina e algumas outras cousas demasiado fabulosas. Nesses escritos, Papias afirma que haveria um certo milênio depois da ressurreição, e, durante esse período, um reino de Cristo em pessoa aqui mesmo, na terra, coisas essas que parece haver imaginado, como se tivessem sido autorizadas pelas narrações apostólicas, não as tendo compreendido corretamente [...] pois tem uma capacidade de entendimento muito limitada, conforme se verifica pelos seus discursos."
Eusébio, ao que parece, não tem em grande consideração o pré-milenismo de Papias. Foi devido a Papias, segundo Eusébio, que Ireneu e muitos outros "foram arrastados a uma opinião semelhante."
Quando Justino, o Mártir, está se referindo ao reino esperado pelos cristãos, nega tratar-se de um reino humano:
"Pensais que falamos de um reino humano, quando nos referimos àquele que está com Deus."
Justino trata de um julgamento geral, na segunda vinda de Cristo, quando...
"...a morte deixará, para sempre, aqueles que crêem nEle e desaparecerá; quando alguns serão julgados e condenados ao castigo eterno do fogo, mas outros passarão a viver livres do sofrimento, da corrupção, da mágoa e em imortalidade."
Lendo tais afirmações, seria natural supor-se não haver nos ensinamentos de Justino lugar para um milênio na terra. Incongruentemente, entretanto, ele diz, em outro trecho, que haverá uma ressurreição dos mortos e mil anos em Jerusalém, cidade essa que será, então, construída em maiores proporções e adornada e "depois disso, terão lugar a ressurreição geral e o julgamento de todos os homens para a eternidade." No milênio de Justino não haveria, absolutamente, lugar especial para os Judeus, pois afirma, repetidamente, serem os cristãos "a verdadeira raça Israelita." Diz-nos, ainda, que ele e outros, os quais "em tudo pensam acertadamente, sustentam essa noção de um milênio." Admite, porém:
"muitos que professam uma fé piedosa e pura e são verdadeiramente cristãos pensam de outra forma."
Papias e Justino são, portanto, os únicos, de todos os escritores da primeira metade do segundo século, que podem, com alguma propriedade, ser apontados como pré-milenistas. E Justino é decididamente contraditório. Outros, por suas declarações, excluem terminantemente essa doutrina. Os dois primeiros volumes dos "Pais", na Biblioteca Ante-Nicéia, contêm 950 páginas, porém os índices citam apenas dois nomes sob o título "Milênio". Trata-se dos escritos de Papias e Justino.
Passemos, agora, dos Pais Apostólicos para a Antiga Igreja Católica (150-250 d.C.). Esse é o período chamado, por dr. Shedd, "a era do desabrochar do milenismo." Ele assegura, porém, que mesmo naquela época a idéia...
"...não se ajusta à fé católica, conforme está consubstanciada no seu Credo."
O Credo Apostólico, em sua forma primitiva, nos veio daquele tempo e, de conformidade com seus dizeres, não há o estabelecimento corpóreo de Cristo na terra depois de sua ascensão às alturas, até que deixe o Seu lugar junto ao Pai e venha diretamente "de lá" para o Juízo Final.
Ireneu (cerca do 180 d.C.) ensinou a respeito de um milênio na terra, mas um milênio cujos benefícios seriam exclusivamente para os salvos e no qual não teriam participação os ímpios e os não regenerados. Faz referência a opositores de suas idéias milenistas, os quais eram da fé católica.
Os Montanistas, uma das seitas mais fanáticas, floresceram no fim do segundo e no início do terceiro século. Pregavam a próxima chegada do reino milenário. Uma de suas profetisas principais, Maximilla, disse:
"Após mim não haverá mais profecia, mas somente o fim do mundo."
A Nova Jerusalém deveria descer na aldeia de Pepuza, na Frigia. Eles, os Montanistas, foram os mais ardorosos pré-milenistas na Igreja antiga e difundiram largamente esse ponto de vista.
Caio de Roma atacou os Montanistas e chegou ao ponto de atribuir a origem do pré-milenismo ao herege Cerinthus!
Hippolytus, o mais culto membro da Igreja de Roma no princípio do terceiro século, também se opôs aos Montanistas. Escreveu um tratado acerca do Anticristo — "Como ele provocará tribulação e perseguição contra os santos." A Igreja sofrerá tribulação sob o domínio do Anticristo, de acordo com o que diz Hippolytus e...
"...finalmente, aproximando-se a consumação de todo o mundo, que restará, senão a vinda de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo dos céus, Aquele que temos desejado, e que trará o justo juízo sobre todos os que se têm negado a crer nEle."
Quando Cristo vier, diz Hippolytus, tudo o que é terreno será desfeito "para que possa surgir o reino eterno e indestrutível dos santos". Quando Ele vier, destruirá seus inimigos, e dará o reino eterno aos Seus santos. Em vista de tal linguagem, não se pode classificar Hippolytus como pré-milenista.
O terceiro século distinguiu-se por uma oposição firme e decidida à crença em um milênio aqui na terra. Orígenes pugnou contra essa idéia. Seus argumentos, afinal, obtiveram vitória completa. Lactâncio foi o único homem digno de nota, no quarto século, que ainda admitiu o milênio. Atanásio, o grande defensor da doutrina da divindade de Cristo, contra os Arianos, fala de Cristo vindo a julgar o mundo: os bons receberão, então, o reino celestial e os maus serão lançados no fogo eterno. Essa é a sua singela declaração com respeito à doutrina da volta do Senhor.
Agostinho, um dos maiores homens da Igreja Cristã de todos os tempos, viveu de 354 a 430 d.C., a princípio, adotou o "pré-milenismo". Abandonou-o, todavia, considerando-o como uma idéia "carnal". "Agostinho", diz S. J. Case "abateu" tão eficientemente o fantasma do (pré) milenismo, que durante séculos o assunto foi praticamente desconhecido.

continua...

quinta-feira, 8 de julho de 2010

CAPÍTULO II - "Pós", "Pré" ou "Não".

...continuação.

Importante
: O texto a seguir é de autoria do Rev. William J. Grier (1868-19??).


Pós-Milenismo
— Os Pós-milenistas ensinam que a segunda vinda de Cristo se seguirá ao milênio. Que o reino de Cristo existe agora e gradualmente distenderá seus limites através da pregação do Evangelho. No fim da dispensação da Graça, haverá um período de mil anos, em que o Cristianismo prevalecerá na terra. O mal, que progredirá ao lado do bem até o milênio, será restringido durante aqueles mil anos e Satanás será preso. Ao milênio sucederá imediatamente violento surto de maldade e um terrível conflito terá lugar com as forças do mal, lideradas por Satanás. Nesse momento, Cristo voltará, trazendo a ressurreição de todos os mortos e o julgamento final.

Pode-se objetar a esse ponto de vista (e percebemos haver força nessa objeção) que a Bíblia não apresenta a perspectiva de um mundo convertido antes da vinda do Senhor. Não crescerão juntos o trigo e o joio até a colheita, no fim do mundo? Além disso, parece não haver harmonia entre a idéia de um milênio, em que predominará a justiça, e a de, no seu fim, surgir Satanás comandando hostes dos quatro cantos da terra, para batalhar, multidão numerosa como a areia do mar (Ap 20:8). De onde virá tal multidão, se no mundo estará prevalecendo a justiça?


Pré-Milenismo — Ensinam os pré-milenistas que a segunda vinda de Cristo não seguirá, mas precederá o milênio. A ordem dos acontecimentos, conforme tal ponto de vista é, comumente, assim prevista:


1) Um período de apostasia precedendo a vinda do Senhor.

2) Cristo virá em oculto, ressuscitará os santos, que serão arrebatados juntamente com os crentes que estiverem vivos — acontecimento geralmente chamado: "arrebatamento secreto".

3) Seguir-se-á um curto período de sete anos, de grande tribulação, durante o qual a terra será governada pelo Anticristo.

4) Então, Cristo aparecerá, vindo do céu, às claras. Haverá a batalha do Armagedon e Cristo derrotará o Anticristo e as hostes do mal. Isso introduzirá o reinado glorioso do Redentor em Jerusalém, onde serão restaurados o templo e o culto sacrificial.

5) Findos os mil anos, Satanás será solto, de novo, e provocará uma revolta contra Deus. Sua derrota esmagadora será seguida pela ressurreição dos ímpios e seu julgamento, e o "estado eterno".


Há pré-milenistas que não aceitam o esquema acima. Não crêem, em um arrebatamento secreto. Acreditam que a Igreja passará pela tribulação e estará na terra durante o aparecimento e o reinado do Anticristo. Assim, os que adotam este último ponto de vista rejeitam a idéia da vinda, em duas fases, antes do milênio e sustentam que Ele aparecerá à vista de todos, para levar os Seus santos, esmagar o Anticristo e estabelecer o Seu reino durante mil anos na terra. Tal modo de crer coincide com o mais antigo pré-milenismo, como era compreendido por alguns "pais" da Igreja primitiva.

Faz parte da teoria pré-milenista comum a idéia de que, quando esteve na terra, Cristo pretendia estabelecer o reino de Seu pai Davi -— seria um reino nacional. Como os judeus se recusaram ao arrependimento, a instituição desse reino foi adiada até a Sua segunda vinda, quando isso acontecerá e Ele reinará em Jerusalém. Tal teoria sofre objeções muito sérias. Desafia a afirmação de Jó:
"Nenhum dos teus planos pode ser frustrado" (Jó 42:2).
Insinua haver Jesus oferecido à nação dos Judeus um reino terreno, quando tal não se deu. Pelo contrário, quando quiseram fazê-lo rei, Ele a isso se recusou (Jo 6:15), Além disso, essa teoria apresenta o reino como uma instituição terrena e local, ao passo que o Novo Testamento prega claramente um reino espiritual e eterno, constituído de pessoas de todas as nações, tribos e línguas. Ainda mais: não explica como santos glorificados e pessoas ainda na carne poderão viver juntas, em comunhão, durante os mil anos. Em vez de "pessoas ainda na carne", poderíamos ter escrito "pecadores ainda na carne" pois, embora se suponha que a justiça prevalecerá durante o milênio, ao seu término Satanás deverá liderar uma multidão, numerosa como a areia do mar, que batalhará, vindo dos quatro cantos da terra (Ap 20:8)!

Finalmente, como afirma o Prof. Berkhof, o ponto de vista pré-milenista
...
"...procura, erradamente, seu principal ponto de apoio em uma passagem (Ap 20:1-6) que apresenta uma cena nos céus e não faz qualquer referência aos Judeus, ou a um reino terreno e nacional, nem à terra da Palestina."
O ensino comum do Novo Testamento não menciona duas, três ou até mesmo quatro ressurreições. Refere-se repetidamente à ressurreição dos justos e injustos ao mesmo tempo. Fala da vinda do Senhor, trazendo bênção aos Seus e, exatamente na mesma ocasião, "destruição" aos ímpios. O próprio Salvador ensinou a ressurreição do Seu povo no "último dia" (Jo 6:39, 40, 44, 54; Jo 11:24), exatamente no mesmo "último dia" em que sobrevirá o julgamento dos ímpios (Jo 12:48).

Não-Milenísmo — Os não milenistas acham que os "Pós" e os "Pré-milenistas" se têm enganado ao interpretar o capítulo 20 do Apocalipse, dele deduzindo que haverá mil anos de bem-aventurança aqui na terra. Julgam, principalmente, errarem os pré-milenistas ao prever uma época na qual milhares de pessoas que rejeitaram a Cristo e sobreviveram à tribulação e ao advento compartilharão daquela bem-aventurança. Alguns Pós-milenistas, como o Dr. B. B. Warfield, concordam com a interpretação dada pêlos não milenistas a esse capítulo do Apocalipse. Baseando-se, contudo, em outros trechos das Escrituras, prevêem uma época áurea, antes da vinda de Cristo.

O não milenista não encontra nas Escrituras base para um milênio antes da vinda do Senhor e assegura que a possibilidade de vir a ocorrer depois da Sua vinda é excluída pelo ensino do Novo Testamento.

Concorda ele com o ponto de vista "pré" de que o mundo não será convertido antes da segunda vinda, pela pregação do Evangelho, ao passo que aceita a opinião "Pós" de que essa vinda trará consigo o fim do mundo, o juízo final e o estado eterno.

A sequência dos acontecimentos, de acordo com os não milenistas, é a seguinte:


1) A segunda vinda será precedida por uma generalizada apostasia da fé verdadeira, que atingirá o clímax com o aparecimento do Anticristo.

2) Essa última rebelião contra Cristo será por Ele vencida, com o Seu aparecimento em pessoa, quando virá do céu buscar para Si mesmo o Seu povo, ressuscitando os crentes mortos e transformando os que estiverem vivos.
3) Quando Ele vier, os ímpios mortos também serão ressuscitados, para julgamento. A terra e tudo o que nela existe serão consumidos por fogo (II Pedro 3) e surgirão um novo céu e uma nova terra em que só habitará a justiça.


Esses três pontos de vista, ou melhor, essas três interpretações das Escrituras têm sido sustentadas por homens santificados. O ponto de vista "Amilenista" é substancialmente defendido por Dr. T. T. Shields, de Toronto. O "Pós-milenista" tem sido largamente adotado por teólogos ortodoxos, entre os quais John Bunyan e Dr. B. B. Warfield e o "pré-milenista", conquanto nunca tenha sido tão amplamente sustentado a ponto de assegurar um lugar entre as grandes doutrinas da Igreja, tem entre os seus adeptos homens consagrados como Andrew Bonar.


quinta-feira, 1 de julho de 2010

CAPÍTULO I - O maior de todos os acontecimentos.

Importante: O texto a seguir é de autoria do Rev. William J. Grier (1868-19??).

O maior de todos os acontecimentos.

No Credo Apostólico, que nos chegou às mãos em sua forma original em meados do segundo século, a Igreja primitiva afirmou sua crença acerca da segunda vinda de Cristo:
"Ao terceiro dia, Cristo ressurgiu dos mortos; subiu ao Céu e está assentado à mão direita de Deus Pai, Todo-Poderoso, de onde há de vir para julgar os vivos e os mortos."
Em pessoa — O Novo Testamento nos ensina que o Senhor virá em pessoa. Conquanto as Escrituras se refiram a grandes eventos na história do indivíduo (como a morte) e a importantes fatos na história da Igreja (como o derramamento do Espírito Santo no dia de Pentecostes e a destruição de Jerusalém) como sendo manifestações de Cristo, elas declaram, de forma inequívoca, que haverá uma volta final, triunfante, do Senhor, acontecimento esse que se erguerá muito acima de qualquer outra manifestação parcial e típica. "O próprio Senhor descerá dos céus." (1 Ts. 4:16).
Visível
— Está claramente ensinado, no Novo Testamento, que o Senhor voltará em forma visível. Sua primeira vinda foi literal e visível e podemos estar certos de que a segunda, que tantas vezes é àquela relacionada nas Escrituras, será igualmente autêntica e visível.
"Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir." (At 1:11)
Sua segunda vinda será tão visível quanto a ascensão.
"Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; e todas as tribos da terra se lamentarão, e verão o Filho do homem, vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória. E Ele enviará os seus anjos com grande clangor de trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus." (Mt 24:30,31)
O falecido Dr. R. V. Bingham contou quão firmemente apoiava a doutrina comum de um aparecimento do Senhor às ocultas e um arrebatamento secreto dos santos, até que um dia sua esposa lhe pediu um texto bíblico que servisse de prova a essa crença. Descobriu, então, ser-lhe impossível apresentá-lo. Há abundância de passagens para provar o contrário. Claro que, se fosse para ser em segredo, não haveria "alarido, voz do arcanjo" nem "a trombeta de Deus" (1 Ts. 4:16).
Repentino e Inesperado
— Discorrendo acerca da palavra "apocalipse" ou "revelação" do Senhor, empregada no Novo Testamento com respeito à Sua segunda vinda, assinala o Dr. Vos:
"a própria idéia de um fato repentino e inesperado parece se associar intimamente a essa palavra."
É como se uma cortina fosse descerrada, de repente, e o Senhor da Glória aparecesse. Sua vinda será...
"...como um ladrão de noite. Pois que, quando disserem: Há paz e segurança, então lhes sobrevirá repentina destruição." (1 Ts. 5:2,3)
O próprio Salvador disse que Sua vinda seria "como o relâmpago" (Mt 24.27), igualmente repentino e universalmente visível. Ninguém a preverá e todos O verão ao mesmo tempo. Que advertência deve constituir esse aviso para os pecadores descuidados e professores de religião desatenciosos e displicentes!
Em Glória e Triunfo — Frequentemente se apresenta no Novo Testamento o contraste entre os dois aparecimentos de Nosso Senhor. Ele não virá outra vez no corpo de Sua humilhação, mas no corpo da Sua glória (Hb 9:28). As nuvens serão a Sua carruagem (Ap 1:7); os anjos, a Sua escolta (2 Ts 1:7); o arcanjo, o Seu arauto (1 Ts. 4:16); os santos, o Seu glorioso cortejo (1 Ts. 3:13). Virá como o Rei dos reis e Senhor dos Senhores, triunfante sobre todas as forças do mal (Ap 19:11-16).
Uma das palavras usuais, no Novo Testamento, para a “vinda" de Cristo seria mais propriamente traduzida por "chegada". Os escritores do Novo Testamento reconheciam, em verdade, que Cristo já tinha vindo, mas a "chegada", a verdadeira vinda, a que realmente deveria receber o nome, pertencia ao futuro. Tiveram avançado poder de perspectiva — para eles o magno acontecimento é a vinda do Senhor.
Outra palavra para a Sua segunda vinda — "a revelação" — é empregada da mesma forma, como se essa e não a primeira fosse a revelação por excelência.
Outro termo usado é "o dia" — "a noite é passada e vem chegando o dia" (Rm 13:12). Quando Ele vier, a escuridão desaparecerá para sempre e haverá libertação, alegria e felicidade para os Seus. Em verdade, Sua segunda vinda é descrita como "nossa redenção."
Comentando a passagem de Atos 1:11, J. A. Bengel diz, com beleza:
"Entre a Sua ascensão e a Sua volta nenhum acontecimento intervém que se lhes iguale em importância. Portanto, os dois estão unidos. Naturalmente, então, os apóstolos consideraram o segundo (o dia de Cristo) como muito próximo. E, dada a Sua majestade, é justo que, durante todo o espaço de tempo entre a Sua ascensão e a Sua vinda, seja Ele esperado sempre, ininterruptamente.
Foi uma característica dos santos do Velho Testamento a espera da consolação de Israel, a vinda do Messias. Agora, é como que "um emblema de todo o verdadeiro crente a espera e o desejo de Sua segunda vinda."
O Novo Testamento mantém constantemente perante nós esse grande acontecimento e insiste em para ele nos chamar a atenção, a fim de que nos tornemos ativos, zelosos, pacientes, alegres e santificados.

continua...


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