quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

AMILENISMO: Parte 2 - CRISTO: O TEMA DA PROFECIA DO ANTIGO TESTAMENTO

IMPORTANTE: O texto a seguir é de autoria de Robert B. Strimple, professor de Teologia Sistemática no Westminster Theological Seminary.

No AT existem passagens que falam sobre um tempo vindouro de paz mundial e justiça, uma época quando o templo será reconstruído; o sacerdócio, restabelecido, e os sacrifícios, novamente oferecidos (por exemplo, Sl 72.7-11; Is 60.10-14; Ez 37.24-28; 40-48). Os pré-milenaristas insistem que essas passagens devem ser interpretadas “literalmente” (exatamente o que se requer em cada ponto é uma questão debatida entre eles), e que elas se referem às condições que ocorrerão no milênio, o reino milenar que Jesus estabelecerá na Terra em sua segunda vinda, com sua capital em Jerusalém, o templo reconstruído, o sacerdócio restabelecido,[2] os sacrifícios de animais novamente oferecidos, e o trono de Davi outra vez erigido. A cada sábado, Cristo, o príncipe, adentrará o tempo pelo portão oriental, enquanto os sacerdotes oferecem em holocausto seis cordeiros sem mancha e um carneiro, como também ofertas de comunhão (Ez 46). O povo, uma vez mais, será ensinado em distinguir entre o limpo e o imundo, e a circuncisão da carne – e a do coração – será outra vez exigida (Ez 44.23, 9). Desse modo, a adoração no reino messiânico presenciará um retorno daqueles elementos que eram centrais sob a antiga aliança.
Mas seria correto interpretar essas profecias do AT como descrições do futuro reino milenar que Cristo estabelecerá na terra em sua segunda vinda? Para responder a essa indagação, a pergunta crucial que o cristão precisa fazer, naturalmente, é esta: Como o Novo Testamento nos ensina a interpretar tais passagens? Pela inspiração do Espírito Santo, essa revelação pós-ressurreição, pós-pentecostal, que é absolutamente autorizada, um guia infalível em todos os assuntos de fé e de vida, inclusive essa matéria, de vital importância, de como interpretar a profecia do AT foi dada à Igreja de Cristo no NT.
À medida que lemos o NT, entendemos que os profetas do AT falaram das glórias do tempo messiânico – aquela era inaugurada por Cristo e na qual a igreja agora vive – em termos de sua própria era das bênçãos religiosas do povo de Deus da época da antiga aliança. Os aspectos centrais dessas bênçãos são os conceitos do povo de Israel, da terra de Canaã, da cidade de Jerusalém, do templo, dos sacrifícios e do trono de Davi.
É uma característica necessária da comunicação efetiva que todos experimentamos e compreendemos, que quando desejamos escrever a um amigo algo que ele nunca experimentou ainda, fazemo-lo mediante recursos que ele já conhece. Para comunicar ao povo de Deus que vivia sob a antiga aliança, os profetas inspirados pelo Espírito falaram das bênçãos que Deus derramaria sob a nova aliança em termos de imagens tipológicas familiares aos santos da antiga aliança.[3]
Para um judeu zeloso que não havia recebido Cristo, para quem o véu permanecia baixado onde quer que a antiga aliança fosse lida (2Co 3.14), tal princípio de interpretação profética, como pré-milenarista que diz que devemos interpretar “literalmente sempre que possível” a profecia do AT, é comprensível. Infelizmente, o judeu sionista, por exemplo, não possui outro princípio interpretativo significativo com o qual trabalhar. Mas nós, crentes que vivemos à plena luz da revelação do NT, a revelação do Cristo de Deus, não tiraremos vantagem disso? Não percebemos que aquilo que está oculto no AT é revelado no NT (como Agostinho disse)? Que aquilo que está contido no AT é explicado no NT? Não foi o apóstolo Paulo, por inspiração do Espírito Santo, que nos disse algo importante quando falou sobre a leitura do AT com um véu sobre nossa compreensão, até que possamos entender à luz da revelação do cumprimento mediante Cristo Jesus?
Todo cristão evangélico está acostumado a ver sacrifícios, as festas e as cerimônias do AT como tipos, isto é, ferramentas pedagógicas que apontam para a obra de Cristo. Por que, então, os elementos que consideraremos agora – a terra de Canaã, a cidade de Jerusalém, o templo, o trono de Davi, a própria nação de Israel – não poderiam ser compreendidos à luz da mesma percepção interpretativa utilizada para os sacrifícios e as cerimônias?
Mas não se trata de isso parecer lógico, ou não, para nós. O fato é que o NT nos ensina que é assim precisamente como deveríamos compreender tais elementos nas profecias do AT. E com respeito a qualquer tipo – quer seja ele um sacrifício, uma festa, o templo, quer a terra –, quando a realidade é apresentada, a sombra desaparece. E não desaparece para ser restaurada no futuro, mas porque foi cumprida em Jesus Cristo! Não falamos sobre isso como uma interpretação “espiritualizada” dos sacrifícios ou dos rituais do AT, usando esse termo em sentido negativo como se negássemos sua realidade de alguma forma. Vemo-lo como um cumprimento daquilo que os sacrifícios e as cerimônias expressavam. Por que deveriam ser considerados de algum modo diferentes, com relação a esses cinco elementos que vimos há pouco? Vemos no NT o verdadeiro significado de todos os tipos do AT, e a figura central na profecia bíblica é o Senhor Jesus Cristo. Cristo, e não o povo hebreu, é o tema dos profetas do AT.[4]

continua...

[2] Várias tentativas foram feitas pelos pré-milenaristas para harmonizar as diferentes imagens dadas pelos profetas com referência àqueles dentre os quais o sacerdócio restaurado será escolhido, se os levitas (Jr 33:18), se os filhos de Zadoque apenas (Ez 40:46; 43:19; 44:15), ou se todas as nações (Is 66:20,21).
[3] Para discussões acerca deste princípio, v. os trabalhos clássicos de Patrick Fairbairn: The interpretation of prophecy (Londres: Banner of Truth Trust, reimp. 1964 [1856]); The typology of Scripture (Grand Rapids: Zondervan, 1975); An exposition of Ezekiel (Wilmington, Del.: National Foundation for Christian Education, 1969). Um pequeno e interessante volume intitulado The prophetic prospects of the Jews or Fairbairn versus Fairbairn (Grand Rapids: Eerdmans, 1930), que consiste em duas conferências feitas por Patrick Fairbairn, com uma diferença de 25 anos entre elas. Na parte 1 (1839), Fairbairn defende um literalismo rígido na interpretação da profecia do AT (esse é o literalismo do pós-milenarismo, em vez do pré-milenarismo). Com relação a Oséias 1, por exemplo, Fairbairn insiste que “não há aqui lugar para equívocos com relação a quem são os próprios sujeitos da profecia, porque são chamados pelos nomes de ‘filhos de Judá e filhos de Israel’, os dois ramos distintivos da nação judaica” (p. 21). Em uma nota de rodapé, ele chama as referências em 1Pe 2:10 e Rm 9:24-26 aos gentios convertidos, como cumprimento da profecia de Oséias, “uma extensão de seu significado, além da literal e primária significação”. Na parte 2 (1864), porém, Fairbairn reconhece quão arbitrária e insubmissa à instrução do Novo Testamento tal declaração é. Ele agora insiste que a profecia simplesmente deve ser lida “como uma história escrita anteriormente” (e assim de acordo com o estrito literalismo), “o princípio hebreu [como oposto ao cristão] de interpretação profética” (p. 91-2).
Surpreendentemente, The new Scofild reference Bible (New York: Oxford University Press, 1967) sugere que a profecia de Ezequiel de sacrifícios oferecidos novamente no Novo Templo “não será considerada literalmente [...] mas ceramente será considerada como uma apresentação da adoração dos remidos em Israel [...] usando as condições com que os judeus estavam familiarizados nos dias de Ezequiel” (p. 888). Fairbairn não poderia ter dito isto melhor! Anthony A. Hoekema faz a pergunta óbvia: “Se os sacrifícios não devem ser tomados literalmente, por que deveríamos considerar o templo literalmente? [...] uma pedra fundamental crucial para todo o sistema dispensacionalista foi aqui posta de lado!” A Bíblia e o futuro (São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1989, p. 273).
[4] George L. Murray, Millenial Studies (Grand Rapids: Baker, 1948),p. 57.

2 comentários:

  1. Com certeza vocês não divagariam tanto, se procurassem respostas nos antigos pais da Igreja. Agostinho deixou bem claro na "Cidade de Deus", o que vem a ser o milênio. O problema foi criado popr vocês mesmos. a grande maioria protestante está perdida em escatologias vãs. E com certeza perde mais tempo procurando explicações para o fim dos tempos, esquecendo-se do principal, toda árvore infrutífera para na mais serve, senão para ser lançada ao fogo.

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  2. Caro Maurício,

    Não é a minha intenção procurar a resposta nos pais da igreja, e sim na Bíblia.
    Não sei porque você citou Agostinho, já que os ensinamentos escatológicos dele divergem muito pouco do Amilenismo defendido pelo protestantismo, mas em todos os casos (e mesmo eu tendo profunda admiração por ele) os seus escritos não se comparam com a Palavra de Deus, haja vito que sobretudo o N.T. é claramente Amilenista.
    Não há nenhum problema com o Amilenismo enquanto corrente escatológica, já que em sua forma aparece desde o início da Igreja. De fato há no meio do protestantismo evangelical algumas linhas de interpretação no mínimo confusas como é o caso do pré-milenismo histórico e dispensacionalista, mas isso não faz daqueles que os defendem pessoas menos piedosas ou não salvas.

    Em Cristo, MAC.

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