segunda-feira, 27 de maio de 2013

O Reino Milenar - Parte 1.

Importante: O texto a seguir é de autoria de Leandro Lima, pastor efetivo na IPB de Santo Amaro, SP, mestre em Teologia e História pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper e doutor em Letras - Literatura, pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.

No momento da vinda de Jesus, ele estabelecerá um reino de mil anos ou o reino eterno? Esse assunto divide os cristãos evangélicos. Nenhum assunto é tão controvertido em teologia do que o Milênio, e nenhum texto causa mais discussão do que Apocalipse 20.1-10.  

Entraremos nessa discussão acalorada, porém, não querendo aqui imprimir uma posição intransigente, e até quase fanática, sobre um assunto que diz respeito ao futuro, e do qual ninguém tem certeza absoluta. Há tanta controvérsia sobre este assunto que talvez não consigamos achar duas pessoas que pensem exatamente igual sobre a questão. Há tanta especulação também, que faz com que seja um dos assuntos mais ingratos a se tratar em escatologia.

Trataremos do assunto como precisa ser tratado, ou seja, abordando as principais visões, e emitindo algumas opiniões sobre cada uma delas, e até mesmo assumindo uma posição. No entanto, entendemos que é um assunto que não deveria dividir os cristãos. No final, todos crêem que Jesus virá e estabelecerá um reino eterno. A esperança deste reino não deve diminuir, quer exista um reino intermediário, quer não.

Correntes Milenistas.

Há basicamente quatro posições em relação ao milênio. São elas: Amilenismo, Pós-Milenismo, Pré-Milenismo Histórico e Pré-Milenismo Dispensacionalista.

O termo “Amilenismo”, como diz Hoekema, “não é muito feliz” [1], porque sugere que não exista um Milênio. Os amilenistas acreditam no milênio de Apocalipse 20, porém, não acham que diga respeito a um reino de mil anos literais que Cristo estabelecerá na terra depois da sua vinda. O Amilenismo entende que o milênio de Apocalipse 20 já está em atividade nesse momento, pois começou com a primeira vinda de Jesus e terminará na segunda vinda com a instauração dos novos céus e nova terra. Por isso, para o Amilenismo, o Milênio não é literal, mas espiritual.

O Pós-Milenismo defende que o Milênio também é antes da segunda vinda, porém, acha que será um tempo de prosperidade e paz advinda da pregação do Evangelho em todo o mundo. Para o Pós-Milenismo, o mundo ser tornará gradativamente um lugar muito bom, onde o mal será reduzido ao mínimo e as nações cooperarão entre si, cristianizando o mundo todo. No final desta era gloriosa, Satanás será solto, e então, Jesus voltará e o destruirá.

O Pré-Milenismo Histórico interpreta literalmente o texto de Apocalipse 20.1-10, e entende que o Milênio será estabelecido na segunda vinda de Jesus, e será um reino de mil anos sobre a terra, onde o Senhor regerá as nações com cetro de ferro, minimizará o mal existente, e estabelecerá uma era de ouro, reinando a partir de Jerusalém. Ao final do Milênio Satanás será solto e convencerá as nações a fazerem guerra contra Jerusalém. Então, descerá fogo do céu e consumirá as nações rebeldes. Em seguida o Senhor estabelecerá o Juízo e o tempo eterno.

O Pré-Milenismo Dispensacionalista se parece com o Pré-Milenismo Histórico em sua expectativa por um milênio futuro e literal, porém, se difere em detalhes específicos. O Dispensacionalismo distingue pelo menos duas vindas de Jesus, a primeira para o arrebatamento dos salvos, e a segunda depois de sete anos de tribulação para o estabelecimento do Milênio. No Dispensacionalismo há um tratamento diferente entre a igreja e Israel. Mesmo no Milênio estes dois grupos serão distinguidos. O Dispensacionalismo entende que a igreja é uma espécie de parêntesis na história de Deus com Israel. Na primeira vinda de Jesus, o Evangelho foi oferecido aos judeus, mas como eles o rejeitaram, Deus o ofereceu aos gentios e formou a igreja, porém no fim, voltará a tratar com Israel. Uma das características principais do Pré-Milenismo, seja Histórico ou Dispensacionalista é a interpretação literal das passagens do Antigo Testamento sobre a restauração de Israel, e também do livro do Apocalipse.

O seguinte quadro nos ajuda a entender as diferenças entre esses quatro sistemas [2]:


Todas as quatro posições acima têm encontrado defensores capacitados, e qual é a verdadeira é uma coisa que só saberemos depois da vinda de Jesus. De qualquer forma, o que pode ser dito brevemente sobre cada uma delas é que o Pós-Milenismo que esteve muito em voga nos séculos passados, depois das guerras mundiais e do avanço da fome e das doenças pelo mundo, caiu em descrédito, uma vez que a sonhada prosperidade parece estar muito longe. O Pré-Milenismo Dispensacionalista é bastante recente, e bastante complicado de se explicar. O maior problema dele é a distinção radical que faz entre Israel e igreja, dividindo a volta de Jesus e a ressurreição em duas ou três etapas. O Pré-Milenismo Histórico é mais sóbrio em sua visão, entendendo que haverá apenas uma vinda de Jesus. O problema desse sistema é o excesso de literalismo. O Amilenismo é, na nossa opinião, o que faz mais justiça ao ensino bíblico.

Continua...

Link original: http://www.ipsantoamaro.com.br/artigos/o-reino-milenar.html


[1] Antony Hoekema. A Bíblia e o Futuro, p. 223.
[2] O quadro é retirado de Paul Enns. The Moody Handbook of Theology, Tópico: “Amillennialism”.

Um comentário:

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