segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Um amilenismo otimista.

Importante: O texto a seguir é da autoria de Keith A. Mathison, editor associado da famosa revista teológica Tabletalk (fundada em 1977), em Orlando, Flórida, bem como um dos editores de The Reformation Study Bible. Também é autor de vários livros, incluindo Postmillennialism: An Eschatology of Hope, The Shape of Sola Scriptura, Given for You: Reclaiming Calvin’s Doctrine of the Lord’s Supper e Dispensationalism: Rightly Dividing the People of God?.

A promessa do futuro, por Cornelis P. Venema.

Por quase 20 anos, o manual amilenista utilizado nos seminários e faculdades Reformadas era o clássico livro “A Bíblia e o Futuro” (The Bible and the future), de Anthony Hoekema. Porém, este panorama pode mudar com o lançamento do novo livro de Cornelis Venema, intitulado “A Promessa do Futuro” (The Promise of the Future). Dr. Venema, professor de estudos doutrinários no Mid-America Reformed Seminary, forneceu à igreja um manual bem escrito e de fácil compreensão abordando escatologia sob uma perspectiva reformada e amilenista.

O livro é dividido em seis seções e dezesseis capítulos e descreve todos os principais aspectos da escatologia individual e geral - cósmica. Os dois capítulos da seção 1 (cujo título é “O futuro é agora") descrevem as premissas básicas do autor e esboçam alguns dos mais importantes conceitos escatológicos encontrados nas Escrituras: o Reino, a Aliança, o Dia do Senhor, e o cenário “Já/Ainda Não” desta era. Tais temas oferecem ao leitor princípios hermenêuticos muito valiosos.

Na seção 2 (“O futuro entre a morte e ressurreição”), Venema trata do estudo sobre as doutrinas da morte e do estado intermediário. Ao desenvolver seu raciocínio sobre tais doutrinas, Venema cita várias teorias anti-bíblicas, como o aniquilacionismo, sono da alma e purgatório. Já a seção 3 (“O futuro de Cristo”) descreve um dos elementos centrais da escatologia cristã ortodoxa: a segunda vinda de Cristo no fim da era presente.

Os capítulos da seção 4 (“O futuro marcado pelos sinais do fim dos tempos”) falam sobre os sinais dos fins dos tempos, tal como a pregação do Evangelho a todas as nações, a salvação de Israel, tribulação, apostasia e o surgimento do anticristo. Para surpresa dos amilenistas, Venema concorda com a posição defendida por Charles Hodge e John Murray sobre o texto deRomanos 11. Eles entendem que o referido capítulo prediz uma conversão de judeus em massa ao Cristianismo. Por outro lado (e sem maiores surpresas), Venema argumenta que as referências bíblicas à apostasia, anticristo e tribulação referem-se também “a eventos que caracterizam a era atual até a segunda vindo de Cristo” (p.145) - ainda que o cumprimento de tais eventos possivelmente tenham o primeiro século da igreja como principal referência .

Na seção 5 (“O futuro do Reino”), Venena analisa várias teorias sobre o milênio. Ele inicia a análise afirmando que há duas teorias mais largamente disseminadas sobre o período entre a segunda vinda de Cristo e o milênio: pré-milenismo e o pós-milenismo, sendo que, dentro deles, ainda existem duas ramificações. No caso do pré-milenismo, ele se divide em histórico e dispensacionalista e no caso do pós-milenismo, ele se divide em pós-milenismo propriamente dito e amilenismo. Em seguida, são explicadas as premissas de cada uma destas quatro visões de uma forma justa e equilibrada. Então Venema apresenta uma crítica a ambas as teorias pré-milenistas, faz uma exposição de Apocalipse 20 e encerra criticando o pós-milenismo.

A seção 6 (“O futuro de todas as coisas”) reserva quatro capítulos para abordar os elementos fundamentais da escatologia geral (cósmica): a ressureição do corpo, o julgamento final, a doutrina de punição eterna e os novos céus e nova terra. Em cada um destes capítulos o autor apresenta com excelência a visão bíblica ao mesmo tempo que critica as várias interpretações anti-bíblicas. No capítulo sobre a ressurreição do corpo, Venema comenta de forma minuciosa a doutrina do corpo ressurreto e faz uma excelente avaliação do recente debate sobre o referido tema entre Murray J. Harris e Norman Geisler, a partir da visão de Harris. Essa discussão se provará especialmente valiosa para aqueles que estão lidando com as recentes tentativas entre hiper-preteristas e outros de reviver o ensino de Harris.

Quanto à doutrina da punição eterna, Venema tece críticas devidamente fundamentadas ao aniquilacionismo e universalismo. Quando fala de novos céus e nova terra, Venema elabora correções necessárias àqueles que tratam o assunto de modo figurativo e imaterial. Ele ressalta que há um paralelo entre a salvação individual e a cósmica. Na salvação individual, o cristão receberá um novo corpo que é livre do pecado e seus respectivos efeitos, ressaltando que este corpo não é imaterial. Há uma continuidade entre o novo e o antigo corpo, assim como há entre os atuais céus e terra e os novos céus e nova terra. O fato de o pecado ser removido não quer dizer que os novos céus e nova terra venham a ser uma espérice de reino imaterial gnóstico.

Venema deve ser elogiado por vários motivos. Em primeiro lugar, seu livro é bastante abrangente sem ser superficial, discutindo profundamente todos os pontos principais. Em segundo lugar, ele oferece uma resposta equilibrada àqueles que discordam dele (incluindo pós-milenistas como eu). Isso é raro em discussões sobre escatologia e é louvável que este tipo de atitude prevaleça. Por fim, e os leitores pós-milenistas vão gostar disso, Venema é um dos poucos amilenistas que não somente afirmam ser um amilenista otimista, mas suas atitudes refletem verdadeiramente isso. Ao contrário de muitos amilenistas, Venema leva muito a sério as promessas de poder do Espírito Santo na disseminação do Evangelho ao redor do mundo, culminando com uma conversão em massa. Ele crê na conversão dos judeus ao Cristianismo e que gradualmente o reino de Cristo supere o reino do Satanás.

Minhas restrições ao livro são pequenas e podem ser classificadas mais como tópicos para futura discussão do que críticas em si. Vou listá-las como meros comentários:

Primeiro, ao criticar o pós-milenismo, Venema se reserva a criticar somente a versão que defende que o milênio será um período de tempo específico no nosso futuro dentro da presente era inter-advento. Por outro lado, há um número crescente de pós-milenistas que entendem o milênio como um símbolo de toda a presente era, ou seja, o tempo entre a primeira e segunda vindas de Cristo. A proposta de Venema levanta a possibilidade de discutir as diferenças entre sua teoria de “amilenismo otimista” e as versões do pós-milenismo (como a minha) que crêem que o milênio é um hiato entre a primeira e a segunda vinda de Cristo.

Segundo, a principal área de desacordo no debate sobre as interpretações dos “sinais dos tempos”. Venema afirma que muitos desses sinais, se não todos, têm seu cumprimento principalmente no primeiro século, porém insiste que eles têm um segundo cumprimento no tempo presente e possivelmente haverá outros últimos cumprimentos imediatamente antes da segunda vinda de Cristo. As declarações de Venema mostram que um diálogo entre pós-milenistas, amilenistas otimistas e preteristas merece maior investimento e estudo.

Todos os cristãos deveriam se beneficiar dos estudos de Venema. Pós-milenistas apreciarão especialmente o fato de que Venema rejeita alguns dos elementos mais preocupantes do amilenismo tradicional, principalmente o derrotismo debilitante encontrado nos escritos de alguns autores bem conhecidos.Venema parece ter levado a sério muitos dos pontos exegéticos e teológicos defendido pelos pós-milenistas ao longo dos anos.

Kenneth Gentry recentemente escreveu um artigo sobre algumas das profundas mudanças que ganharam terreno no estudo da escatologia evangélica: o dispensacionalismo progressivo, o ressurgimento do pós-milenismo, a ascensão do preterismo bíblico. Se o livro de Venema for amplamente difundido, poderemos incluí-lo nesta lista um movimento amilenista que sustenta uma abordagem mais otimista e bíblica para o futuro. A promessa do futuro certamente não é de derrota, mas de esperança e de vitória.

Nota: Eu, Mac, administrador do amilenismo.com, continuo defendendo o que o autor do artigo chama de amilenismo pessimista.

Link original: http://www.banneroftruth.org/pages/articles/article_detail.php?1022

Tradução: André Luís Oliveira - @Ssapao.

3 comentários:

  1. Uai, Mac. Gostei desse amilenismo aí. Na verdade eu também sempre entendi Rm 11 como uma promessa para o Israel físico. Mesmo quando passei a ser amilenista, ainda não vi motivos suficientes para desconsiderar a conversão em massa do povo judeu.

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  2. O Senhor Jesus disse: "Por isso vos disse que morrereis em vossos pecados, porque, se não crerdes que eu sou, morrereis em vossos pecados" (Jo 8.24). Deus não rejeitou os judeus; mas é preciso crer. não vejo nenhuma lógica em pensar que os judeus do tempo do fim sejam "todo o Israel", se, como o Senhor falou, nestes 2.000 já passados, a grande maioria dos judeus estão morrendo em seus pecados.

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