sexta-feira, 4 de março de 2011

O que são mil anos entre amigos? - Parte 2

...continuação. 

Importante: O texto a seguir é de autoria do Dr. Kim Riddlebarger, pastor sênior na Igreja Reformada de Cristo e professor temporário de teologia sistemática no Seminário de Westminster, Califórnia. 

Quando olhamos para as qualidades atribuídas à “esta era” pelos escritores da Bíblia, encontramos os seguintes termos mencionados: “casas, irmãos, irmãs, irmãos, crianças, campos e perseguições” (Marcos 10:30); "Os filhos desta era casam-se e são dados em casamento” (Lucas 20:34); o estudioso, o erudito e o sábio são desta era (1ªCo 1:20); governantes seculares e religiosos dominam (1ªCo 2:6-8); “O deus desta era cegou o entendimento dos descrentes” (2ªCo 4:4); esta era é explicitamente chamada de “presente era perversa” (Gl 1:4); impiedade e paixões mundanas são típicas dela (Tito 2:12). Todas estas qualidades são temporais, e certamente estão destinadas a passarem com o retorno do nosso Senhor. “Esta era” é a era em que vivemos e a era em que lutamos ansiosamente pela vinda de Cristo e pelas melhores coisas da era por vir.

Em contraste marcante no entanto, “a era por vir” tem um conjunto completamente diferente de qualidades atribuídas a ela: Não haverá nenhum perdão para a blasfêmia contra o Espírito Santo (Mt 12:32); é precedida por sinais (Mt 24:3); é caracterizada pela vida eterna (Mc 10:30; Lc 18:30); é também indicada como um tempo em que as pessoas não se casam ou se dão em casamento (Lc 20:34); e é uma era que é caracterizada pela “verdadeira vida” (1ªTm 6:19). Estas qualidades são todas eternas e são indicativas do estado de relações e qualidade de vida após o retorno de Cristo. Em outras palavras, estas duas eras, a presente (“esta era”) e a futura (“a era por vir”) estão diametralmente opostas uma à outra. Uma era é temporal, a outra é eterna. Uma era é caracterizada pela descrença e termina em julgamento. A outra é a era dos fiéis e é o lar dos redimidos. É esta concepção da história bíblica que domina o Novo Testamento.
Portanto, é imperativo notar que os mesmos contrastes que Jesus e Paulo fizeram entre estas duas eras estão relacionados a um evento que eternamente divide elas, o retorno de Cristo. Esta linha de demarcação é expressamente declarada nas Escrituras na explicação da parábola do semeador em Mateus 13, começando no versículo 37:
“E ele, respondendo, disse-lhes: O que semeia a boa semente, é o Filho do homem; O campo é o mundo; e a boa semente são os filhos do reino; e o joio são os filhos do maligno; O inimigo, que o semeou, é o diabo; e a ceifa é o fim do mundo; e os ceifeiros são os anjos. Assim como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será na consumação deste mundo. Mandará o Filho do homem os seus anjos, e eles colherão do seu reino tudo o que causa escândalo, e os que cometem iniqüidade. E lança-los-ão na fornalha de fogo; ali haverá pranto e ranger de dentes. (v. 43) Então os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça... (v. 49) Assim será na consumação dos séculos: virão os anjos, e separarão os maus de entre os justos.”
Tal declaração de nosso Senhor é o tipo de texto claro e inequívoco de que estávamos falando anteriormente. Observe que, de acordo com este, o julgamento ocorre imediatamente no retorno de Cristo, e não depois de um período de mil anos (como no esquema pré-milenista).
No entanto, esta não é a única evidência bíblica. Em adição a isso, podemos encontrar outras declarações como aquelas a respeito da vinda de Cristo que se encaixam muito bem no modelo “duas-eras”. Nas Escrituras, a ressurreição tanto de justos como de injustos ocorre no mesmo momento. Jesus afirmou que Ele irá ressuscitar os crentes no “último dia”, como João deixa claro em alguns textos:
“Porquanto a vontade daquele que me enviou é esta: Que todo aquele que vê o Filho, e crê nele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.” (Jo 6:40)

“Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia.” (Jo 6:44)

“Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia.” (Jo 6:54)

“Disse-lhe Marta: Eu sei que há de ressuscitar na ressurreição do último dia.” (Jo 11:24)
João nos diz claramente que a ressurreição dos justos ocorre no último dia, no fim da presente era. Além disso, Jesus também proclamou que “quem me rejeitar a mim, e não receber as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o há de julgar no último dia" (Jo 12:48). Observe que o mesmo evento é também dito ser o tempo de juízo sobre aqueles que rejeitam a Cristo.
Adicione a estas importantes passagens aqueles versículos adicionais que se referem a trombeta de Deus para o “último dia”. O retorno de Cristo ocorrerá...
...“Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados” (1ªCo 15:52, conferir 1ªTs 4:16, onde Paulo declara: 'Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro.')”
Ver também 2ª Tessalonicenses 1:6-8, onde Paulo escreve:
“Se de fato é justo diante de Deus que dê em paga tribulação aos que vos atribulam, e a vós, que sois atribulados, descanso conosco, quando se manifestar o Senhor Jesus desde o céu com os anjos do seu poder, como labareda de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.”
É importante observar que não existe um espaço de tempo indicado entre a ressurreição e o julgamento como os pré-milenistas insistem. Todos estes textos falam da ressurreição, do julgamento, e do retorno de Cristo como aspectos distintos de um evento, ocorrendo precisamente ao mesmo tempo. Isso é evidente a partir da narrativa das ovelhas e das cabras em Mateus 25: 31-46:
“E quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se assentará no trono da sua glória; E todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros, como o pastor aparta dos bodes as ovelhas; E porá as ovelhas à sua direita, mas os bodes à esquerda. Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo... (v. 41) Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos... (v. 46) E irão estes para o tormento eterno, mas os justos para a vida eterna."
Pré-milenistas, que muitas vezes censuram cristãos amilenistas por supostamente não tomarem a Bíblia “literalmente” e que defendem o que chamam de interpretação “literal” das Escrituras, precisam agora inserir uma lacuna entre a segunda vinda de Cristo (e a ressurreição) e o julgamento final para dar espaço ao suposto reino milenar de Cristo! E isso, ironicamente, quando as Escrituras declaram claramente a impossibilidade dessa separação e quando sua própria hermenêutica insiste em uma interpretação literal do texto!
Assim, podemos concluir que “esta era”, o período de tempo que Lucas chama de “últimos dias” (Atos 2:17), e que Jesus caracteriza como um período de dores de parto, de guerras, terremotos, fome e sofrimento (Mt 24, Mc 13), termina com o retorno de Cristo, a ressurreição e o julgamento no “último dia”. Um evento que, por sinal, é descrito por Pedro no mais incrível dos termos (conferir 2ª Pedro 3:3-13):
“Sabendo primeiro isto, que nos últimos dias virão escarnecedores, andando segundo as suas próprias concupiscências, e dizendo: Onde está a promessa da sua vinda? porque desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação. Eles voluntariamente ignoram isto, que pela palavra de Deus já desde a antiguidade existiram os céus, e a terra, que foi tirada da água e no meio da água subsiste. Pelas quais coisas pereceu o mundo de então, coberto com as águas do dilúvio, mas os céus e a terra que agora existem pela mesma palavra se reservam como tesouro, e se guardam para o fogo, até o dia do juízo, e da perdição dos homens ímpios. Mas, amados, não ignoreis uma coisa, que um dia para o Senhor é como mil anos, e mil anos como um dia. O Senhor não retarda a sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia; mas é longânimo para conosco, não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se. Mas o dia do Senhor virá como o ladrão de noite; no qual os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra, e as obras que nela há, se queimarão. Havendo, pois, de perecer todas estas coisas, que pessoas vos convém ser em santo trato, e piedade, Aguardando, e apressando-vos para a vinda do dia de Deus, em que os céus, em fogo se desfarão, e os elementos, ardendo, se fundirão? Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça.”
É somente depois disso, que a era porvir será uma realidade presente e visível. Observe que o foco não está sobre uma incompleta e pouco provável era temporal na terra, isto é, um milênio futuro quando leões supostamente serão herbívoros e crianças brincarão com cobras venenosas. Em vez disso, o enfoque bíblico é sobre a consumação, e a soma de todas as coisas com a criação dos Novos Céus e Nova Terra!


continua...

Traduzido por Mac.

Veja também este artigo original em inglês: http://kimriddlebarger.squarespace.com/theological-essays/amillecture revised.pdf

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