segunda-feira, 23 de agosto de 2010

CAPÍTULO VII - Algumas considerações gerais baseadas no N.T.

...continuação.

Importante: O texto a seguir é de autoria do Rev. William J. Grier (1868-19??).

Observemos, agora, certos filões que passam através do ensino do Novo Testamento, bem como alguns dos termos ali empregados com relação à vinda do Senhor.

Alguns conceitos neo-testamentários.


1 - Os últimos dias - Esta expressão é usada frequentemente referindo-se à dispensação da Graça em que vivemos agora.
"Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho." (Hebreus 1:1)
Veja-se, também, Atos 2:17, Tiago 5:3 e 1ª Pedro 1:20. Em Hebreus 9:26, lemos:
"Mas agora na consumação dos séculos uma vez se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo."
Aqui, toda esta Dispensação é considerada como "a consumação dos séculos." Em outras palavras, a encarnação de Cristo introduziu o período final da história do mundo. Comentando as palavras "é já a última hora", de 1ª João 2:18, o rev. J. M. Ghysels observa:
"É fora de dúvida que, de conformidade com as Escrituras, o último período da história do mundo se iniciou com a ascensão de Cristo e a descida do Espírito Santo. A época em que vivemos é a última no programa divino."
Se este período é o último, então nada resta senão o estado eterno. Não há lugar para a inserção de um milênio.

2 - Já cidadãos do céu - Cristo subiu e está à destra de Deus e os crentes, unidos vital e misticamente a Ele, estão, portanto, com Ele, em um sentido espiritual, habitando o mundo eterno (céu). Ver Efésios 1:3; 2:6, Filipenses 3:20 e Colossenses 3:1-3. O mundo celestial e a esfera terrena são, agora, estados paralelos, a ambos pertencendo o crente. Conforme nos faz lembrar Dr. Vos, o cristão tem aqui na terra apenas os seus membros, que devem ser mortificados. Seu verdadeiro ser, no entanto, pertence aos lugares elevados, celestiais. Isso não significa uma diminuição de seu interesse pela vinda de Cristo. "Na realidade", diz Dr. Vos,
"o fato de ser o Cristão apresentado como centralizado e potencialmente ancorado no céu não é uma deserção, porém, uma afirmação profunda e prática do teor sobrenatural da vida do crente."
Embora na terra, ele já é um habitante do céu. Sua alma, em verdade, penetrará na mansão celestial, por ocasião de sua morte e, quando Cristo vier, o seu corpo herdará a eternidade, assim como a sua alma, completando-se, finalmente, a sua redenção.
Tal é já, agora, a posição do cristão: habitante do céu. Voltemo-nos, porém, para a descrição do milênio feita por Papias e por muitos depois dele. Citando uma suposta declaração de Cristo, disse Papias que, durante o milênio,
"as parreiras terão 10.000 galhos cada uma; em cada galho haverá 10.000 ramos; em cada ramo, 10.000 rebentos; em cada rebento, 10.000 cachos e em cada cacho, 10.000 uvas e cada uva, ao ser espremida, produzirá 225 galões (1.022 litros) de vinho. E quando algum dos santos pegar um cacho, um outro gritará: 'Eu sou melhor, pegue-me.'"
Cereais e ervas de toda espécie produzirão - assegura-nos Papias - "nas mesmas proporções" em que o farão as parreiras.
Parece-nos genuinamente cristão e de conformidade com as Escrituras reputar essa espécie de milênio como "carnal". É um sentimento cristão e eucarístico o preferirmos estar para sempre com o Senhor, no céu. Os que já são cidadãos do céu e vivem na perspectiva de gozar plenamente dos privilégios dessa cidadania bem podem voltar as costas a 10.000 vezes 10.000 uvas do milênio. Como os patriarcas, "desejam uma pátria melhor, isto é, a celestial" (Hb 11:16). Colocam seu afetuoso interesse nas coisas que são de cima, não nas da terra (Cl 3:1,2).

3 - As duas épocas - O apóstolo Paulo diz que Cristo está entronizado
"acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século [literalmente], mas também no vindouro." (Ef 1:21)
Nas expressões "neste século" e "no vindouro" engloba o apóstolo todos os tempos, presente e futuro, sob o poder de Cristo. O próprio Senhor Jesus usou linguagem semelhante. Prometeu aos discípulos que fossem fiéis, "já no presente, o cêntuplo... e no mundo porvir a vida eterna." (Mc 10:30). O "século futuro" é, evidentemente, o estado eterno, pois nele há "vida eterna."
Cristo falou, também, do pecado para o qual não existe perdão "nem neste século, nem no futuro." Aqui se observa, de novo, claramente, que, ao mencionar essas duas épocas, Jesus está se referindo a todo o tempo ao presente e o porvir. Em Lucas 20:34-36, lemos:
"E, respondendo Jesus, disse-lhes: Os filhos deste mundo casam-se, e dão-se em casamento;
Mas os que forem havidos por dignos de alcançar o mundo vindouro, e a ressurreição dentre os mortos, nem hão de casar, nem ser dados em casamento;
Porque já não podem mais morrer; pois são iguais aos anjos, e são filhos de Deus, sendo filhos da ressurreição."
Mais uma vez, vemos, aí, todo o tempo - o presente e o futuro - sob as duas expressões: "deste mundo" (esta época) e "a era vindoura" (aquela época). Agora, porém, observamos que é mencionada a linha divisória entre as duas épocas, a saber, a ressurreição dos mortos - que todos os cristãos compreendem como devendo ocorrer quando da segunda vinda de Cristo.
O pré-milenismo assegura que há três épocas: a atual, a milenária e a do estado eterno. O Novo Testamento, todavia, apresenta simplesmente duas épocas: a presente dispensação da Graça e a vindoura, que é o estado eterno, sendo a linha divisória entre elas o extraordinário acontecimento da segunda vinda de Cristo. Podemos observar, de passagem, que o Novo Testamento se refere a época atual como um "século mau" (Gl 1:4), de forma que não vale a pena esperar por um mundo convertido dentro dos limites desta dispensação.

Alguns termos neo-testamentários.


Vamos examinar, agora, alguns dos termos empregados no Novo Testamento com respeito à segunda vinda, a fim de obtermos uma base clara para a continuação de nossos estudos.
Os pré-milenistas comumente fazem distinção entre o "arrebatamento" e a "revelação", aquele devendo ocorrer quando Cristo vier repentinamente e em segredo, nos ares, para levar os seus santos; esta, tendo lugar depois de decorrido um período de sete anos de tribulação, que se seguirá ao "arrebatamento secreto". A "revelação" determinaria o início do milênio. "O arrebatamento concerne apenas à Igreja; a revelação é para toda a terra", diz o Dr. Feinberg, pré-milenista, que faz distinção, também, entre "o dia de Cristo" e "o dia do Senhor", identificando "o dia de Cristo" com o arrebatamento e "o dia do Senhor" com a revelação. A Bíblia Scofield, que tem sido instrumento na divulgação de tais idéias, adota os mesmos pontos de vista do Dr. Feinberg. Vejamos como interpreta 1ª Coríntios 1:7:
"De maneira que nenhum dom vos falta, esperando a manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo."
Segundo Feinberg, "estas palavras são usadas em conexão com a volta do Senhor":

a) Parousia - que significa, apenas, a presença pessoal, e é empregada com respeito à volta do Senhor, relacionando-a com a felicidade dos santos e a destruição do homem do pecado.

b) Apocalipsis - "ato de desvendar", "revelação". O uso dessa palavra imprime ênfase à visibilidade da volta do Senhor."

Imediatamente a seguir, a Bíblia Scofield traz a seguinte nota:
"O dia de Cristo" se refere exclusivamente às recompensas e à bem-aventurança dos santos, por ocasião da Sua vinda, ao passo que "o dia do Senhor" se relaciona com julgamento."
Na realidade, a palavra "parousia" (cujo significado verdadeiro é "chegada") é usada, ao se tratar da vinda do Senhor, não somente como trazendo bem-aventurança aos santos, mas também, juízo sobre os ímpios (ver Mateus 24:37-39) onde a vinda, ou "parousia", é citada como trazendo julgamento como nos dias do dilúvio, enquanto que "apocalipsis" ("revelação"), que Feinberg aplica ao "dia do Senhor", é usada referindo-se à vinda de Cristo, para expressar a abençoada esperança dos Santos em 1ª Co 1:7 e 2ª Ts 1:7.
Não é exato, igualmente, que "o dia de Cristo" seja expressão usada unicamente para significar a recompensa e bem-aventurança dos santos. Em Lucas 17:24,29 e 30, Cristo fala do dia do Filho do homem (sem dúvida o mesmo dia de Cristo) trazendo destruição, como o dia de Sodoma.
O "dia do Senhor" também não está relacionado só a julgamento. O "dia do Senhor" e o "dia de Deus" em 2ª Pedro 3 são evidentemente o mesmo (até a Bíblia Scofield tacitamente admite isso) e esse dia é mencionado como sendo de bênção, que os crentes devem "aguardar, apressando-se para a Sua vinda" (2ª Pedro 3:12), sendo que, além disso, trará grandes mudanças cósmicas, no firmamento e na terra.
Em sua segunda carta aos Tessalonicenses, capítulo 2, Paulo esclarece melhor o assunto, pois de sua leitura se depreende que "o dia do Senhor" se identifica com a "parousia", a saber, a vinda do Senhor e, assim, com "o dia de Cristo." Diz, em parte:
"Ora, irmãos, rogamo-vos, pela vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, e pela nossa reunião com ele,
Que não vos movais facilmente do vosso entendimento, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola, como de nós, como se o dia de Cristo estivesse já perto."
Aqui, a vinda do Senhor ou "parousia" é claramente o mesmo dia do Senhor. Os crentes de Tessalônica pensavam que o bendito dia do Senhor, quando Ele viria para os Seus, estava iminente. Se Paulo tivesse idéias pré-milenistas, teria respondido simplesmente:
"Não, vós estais enganados. O dia do Senhor não virá primeiro. O dia de Cristo ou, para empregar outra expressão, a "parousia" virá em primeiro lugar e só depois de decorridos sete anos de intervalo, chegará o dia do Senhor, ou a revelação."
Mas o apóstolo não diz nada disso. O que diz é:
"E então será revelado o iníquo, a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca, e aniquilará pelo esplendor da sua vinda [parousia]." (v. 8)
Exatamente a mesma vinda (parousia) a que está ligada a reunião dos santos (v. 1). Nada mais evidente do que se inferir que o dia do Senhor e a vinda do Senhor para os Seus santos são um e o mesmo acontecimento e que o anticristo terá de ser revelado antes desse dia, a saber, antes da vinda do Senhor (parousia). A Bíblia Scofield faz um esforço quase desesperado para evitar essa conclusão. Procura inserir o "arrebatamento secreto" dos santos antes do aparecimento do anticristo.

Lê-se em 2ª Ts 2:7:
"Porque já o mistério da injustiça opera; somente há um que agora resiste até que do meio seja tirado."
"E então será revelado o iníquo" (v. 8). Sobre isso diz a Scofield:
"Essa pessoa não pode ser senão o Santo Espírito, na Igreja, que será tirado do caminho."
Observe-se que a Scofield usa a expressão "o Santo Espírito na Igreja", querendo dizer, naturalmente, o Espírito Santo e a Igreja. Essa não é uma forma louvável de se lidar com as sagradas Escrituras, pois não há qualquer referência à Igreja nessa passagem. De acordo com a teoria Scofield, a Igreja deve ser retirada do caminho antes de que surjam o anticristo e a tribulação que ele acarretará. E por um grande rasgo de imaginação exegética, a Bíblia Scofield consegue encontrar o "arrebatamento secreto" no versículo 7, citado.
Afirma o Dr. Feinberg que a aproximação do primeiro acontecimento (o arrebatamento ou o dia de Cristo) não será prevista por quaisquer sinais, ao passo que o segundo (a revelação ou o dia do Senhor) o será. Contraria frontalmente as palavras de Cristo, registradas em Mateus 24:29-33, o asseverar-se que não haverá sinais da aproximação da vinda de Cristo para os Seus eleitos. Claro que não poderia haver grande surpresa quando do segundo evento, se os pré-milenistas tivessem razão, porquanto, uma vez chegado o "dia de Cristo", viria o período de sete anos do Anticristo e a consequente tribulação. O período de sete anos, uma vez iniciado, se desenrolaria até o seu determinado fim e seguir-se-ia o "dia do Senhor" ou "a revelação". Acontece, porém, que os bons estudantes do grego nos informam de que a palavra "revelação" (apocalipsis) traz intimamente associada a idéia de algo repentino e inesperado. De acordo com o esquema pré-milenista, todavia, esse acontecimento não pode ser nem repentino nem inesperado.
O "dia do Senhor" terá de ser repentino e inesperado, de conformidade com 1ª Ts 5:3, embora os pré-milenistas assegurem que um aviso com sete anos de antecedência será dado pelo acontecimento tremendo e aterrador que será o arrebatamento.
Ousamos assegurar que todos os esforços para estabelecer qualquer diferença entre os termos "vinda", "revelação", "dia de Cristo" e "dia do Senhor" têm falhado e só podem falhar. Essas expressões são como que sinônimas, indiferentemente aplicáveis, referindo-se todas ao grande evento que ocorrerá no fim do mundo, quando Cristo virá trazer recompensa e bem-aventurança ao Seu povo e julgar o mundo com justiça.

continua...


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