sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

AMILENISMO: Parte 3.2 - 2ªTessalonicenses 1:5-10

...continuação.

IMPORTANTE
: O texto a seguir é de autoria de Robert B. Strimple, professor de Teologia Sistemática no Westminster Theological Seminary.


Nessa passagem, o apóstolo Paulo dirige palavras de conforto e encorajamento à igreja:
Eles dão prova do justo juízo de Deus e mostram o seu desejo de que vocês sejam considerados dignos do seu Reino, pelo qual vocês também estão sofrendo. É justo da parte de Deus retribuir com tribulações aos que lhes causam tribulação, e dar alívio a vocês, que estão sendo atribulados, e a nós também. Isso acontecerá quando o Senhor Jesus for revelado lá dos céus, com os seus anjos poderosos, em meio a chamas flamejantes. Ele punirá os que não conhecem a Deus e os que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus. Eles sofrerão a pena de destruição eterna, a separação da presença do Senhor e da majestade do seu poder. Isso acontecerá no dia em que ele vier para ser glorificado em seus santos e admirado em todos os que creram, inclusive vocês que creram em nosso testemunho.
Será que esse quadro gráfico é compatível com o conceito do pré-milenarismo sobre um futuro julgamento dividido? Note que será um e ao mesmo tempo que 1) Deus retribuirá “tribulações àqueles que causaram tribulações” aos crentes de Tessalônica, e “punirá os que não conhecem a Deus e não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus”, e que 2) Deus dará “alívio a vocês que estão sendo atribulados, e a nó também”.[16]
É típico das referências bíblicas concernentes a esse maravilhoso evento de consumação, que ele seja abordado aqui de várias maneiras, alertando-nos para o fato de que o NT, com freqüência, descreve o mesmo evento, ou grupo de eventos, de diferentes pontos de vista.
1) Esse duplo julgamento será dosado por Deus, “quando o Senhor Jesus for revelado lá dos céus, com seus anjos poderosos, em meio a chamas flamejantes”. Assim aprendemos que o alívio dos crentes será recebido no retorno visível de Cristo.
[17]
2) Isso ocorrerá quando Cristo “vier para ser glorificado em seus santos e admirado em todos os que creram, incluindo vocês que creram em nosso testemunho”. O tempo no qual Cristo será glorificado em seus santos e admirado por todos os que creram, quando chamar à vida aqueles que morreram nele, e levar todos os crentes a encontrá-lo no ar, a fim de estarem para sempre com ele (1Ts 4.15-18).
3) Tudo isso terá lugar “naquele dia”. No texto grego, essa frase está isolada no final do versículo 10, como uma breve referência a um dia especial na profecia bíblica: o dia do Senhor, o dia do juízo.
Esse dúplice julgamento pode ser referido como acontecendo na vinda de Cristo
para os seus santos, em sua visível revelação desde o céu, naquele dia. Assim, não se pode sustentar que essa vinda [parousia], essa revelação [apokalypsis], e esse dia [hemera], acontecerão em tempos diferentes.
O juízo executado por Deus na vinda de Cristo será duplo: bendito para o povo de Deus e punitivo para os incrédulos. Nada sugere que essa passagem fale apenas de punição
temporal (morte) recebida pelos ímpios viventes na terra por ocasião do retorno de Cristo, e do juízo final a ser executado após o milênio. A linguagem do apóstolo é geralmente inclusiva. Ele fala não somente daqueles que estavam importunando os tessalonicenses, mas também dos “que não conhecem a Deus e os que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus”. Dizer que os ímpios precisam estar vivos no tempo do retorno de Cristo, para poder receber a punição, não é mais convincente do que afirmar que os crentes precisam estar vivos na volta de Jesus, a fim de poder receber o refrigério e a benção final. Se o julgamento aqui referido somente cair sobre aqueles que estarão vivos no retorno de Cristo, a ameaça falhará em seu cumprimento naqueles que perseguiam os tessalonicenses, porque eles morreram há muito tempo.
Essa passagem fala da condenação final e eterna – “destruição eterna [...] separação da presença do Senhor” – aplicada por Deus, o santo juiz, não após a ressurreição dos ímpios no final do milênio, mas no retorno de Cristo.


continua...


[16]
“O grande e consumidor dia do Senhor, que porá fim a era atual, será um dia de salvação para alguns e de destruição para outros. Esse é, claramente, um e o mesmo dia” (Phillip E. Hugues, Interpreting prophecy [Grand Rapids: Eerdmans, 1980], p. 37).

[17]
A linguagem é semelhante à usada nos evangelhos sinóticos para descrever a parusia, que o dispensacionalismo clássico tem ensinado ser uma referência ao arrebatamento secreto.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

AMILENISMO: Parte 3.1 - João 5:28,29

...continuação.

IMPORTANTE: O texto a seguir é de autoria de Robert B. Strimple, professor de Teologia Sistemática no Westminster Theological Seminary.

Escute o que o nosso Deus diz:

Não fiquem admirados com isto, pois está chegando a hora em que todos os que estiverem nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão; os que fizeram o bem ressuscitarão para a vida, e os que fizeram o mal ressuscitarão para serem condenados.
Stanley Grenz chama a doutrina das duas ressurreições corporais, com um período de mil anos entre elas, de “a chave do pré-milenarismo”.[15] Mas não só não há insinuação alguma dessa noção na declaração do nosso Senhor, como também sua declaração parece claramente contrária a isso. Da palavra grega “um tempo”, João 5.28, a NVI traduz por “hora”. A hora está chegando, diz o Senhor, na qual todos os mortos ressuscitarão.
O apóstolo Paulo apresenta o mesmo ensinamento quando disse ao governador Félix que ele tem a mesma esperança em Deus que seus acusadores judeus “de que haverá ressurreição tanto de justos como de injustos” (At 24.15). Observe o singular “ressurreição”. Posteriormente, consideraremos 1Coríntios 15.22-24 e Apocalipse 20.5, para determinar se esses textos exigem de nós a busca de uma alternativa à leitura natural dessas afirmações de nosso Senhor e de seu apóstolo.


continua...


[15]
The millennial maze, p. 128.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

AMILENISMO: Parte 3 - A SEGUNDA VINDA DE CRISTO: O PONTO FINAL DA HISTÓRIA REDENTIVA

IMPORTANTE: O texto a seguir é de autoria de Robert B. Strimple, professor de Teologia Sistemática no Westminster Theological Seminary.

O AT não ensina um futuro reino milenar de Cristo. Os profetas veterotestamentários falam uniformemente sobre o reino perene do Messias e suas bênçãos perpétuas.[13] Com respeito à revelação do NT em relação ao futuro, porém, temos de dizer mesmo mais que isso. O NT não apenas não ensina o reino milenar – como faz sobre a segunda vinda de Cristo – como também não considera um reino milenar terreno em seguida ao retorno de Cristo, porque o NT revela claramente que os eventos seguintes a ele são todos simultâneos, isto é, ocorrerão juntamente em um grupo de eventos finais, um grande e dramático encerramento da história da redenção: a segunda vinda de Cristo, a ressurreição dos crentes (e a “transformação” dos crentes vivos, 1Co 15.51), a ressurreição dos ímpios, o julgamento de todos, o fim, os novos céus e a nova terra, e a inauguração do reino final de Deus, a bendita condição eterna dos regatados.

Porque isso é assim, a Bíblia tem de ser mal interpretada artificialmente, de forma a ajustar-se a um período milenar depois do retorno de Cristo, separando a ressurreição dos ímpios da ressurreição dos justos, o julgamento daqueles da vinda de Cristo e o julgamento dos crentes, e a renovação cósmica (um novo céu e uma nova terra) da vinda de Cristo. Em nosso estudo das muitas passagens do NT, que faremos a seguir, o nosso ponto principal é a ocorrência de todos esses temíveis eventos finais. Examinaremos muitos detalhes para chegar a conclusões, mas será importante não trocar a floresta pelas árvores.

Quando a ocorrência de todos esse eventos finais é reconhecida, o quadro escatológico resultante é simples. Alguns vêem essa simplicidade como uma fraqueza do amilenarismo. Mas não devemos confundir simplicidade com superficialidade ou complexidade com profundidade. Temos espaço para considerar apenas uma amostra da revelação do NT.[14]


continua...


[13]
V. p. ex., Gn 17:7,8; 48:4; 2Sm 23:5; 1Cr 16:17,18; Sl 105:10,11; Is 45:17; 55:3; 61:7,8; Jr 32:40; 50:4,5; Ez 16:60; 37:26; Dn 4:3,34; 7:14,27; 12:2.

[14]
Com relação aos argumentos apresentados nesta seção, estou em dívida com as abordagens apresentadas pelo prof. John Murray, em suas dissertações na sala de aula do Westminster Theological Seminary, em 1958 (não publicadas).

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Por que memorizar a Escritura?

Agora, uma breve pausa nos estudos para deixar-lhes um bom "conselho".

por John Piper.


quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

AMILENISMO: Parte 2.5 - O templo de Deus

...continuação.

IMPORTANTE
: O texto a seguir é de autoria de Robert B. Strimple, professor de Teologia Sistemática no Westminster Theological Seminary.


Uma imagem conclusiva e tipologicamente rica na tapeçaria do AT é a do templo de Deus. Nesse ponto podemos ser breves. O tema principal no quadro profético do que Deus prometeu fazer nos dias do Messias é o fato de que ele restauraria ao seu povo as bênçãos anteriores. Mas essa não é toda a história. Não só no NT, mas nos próprios profetas do AT, é revelado que o cumprimento das bênçãos da nova aliança excederia em muito aquelas que o povo de Deus conhecera no auge da antiga aliança.
Não só o remanescente reunido de Israel e Judá deve ser resgatado (Is 11.13; Ez 37.15-22; Os 1.11; 3.5). Os gentios também estão incluídos (Is 2.2-4; Mq 4.1-3). Os desterrados de outras nações são reunidos com os cativos de Israel (Is 56.6-8) e seus sacrifícios serão aceitos no altar de Deus (Zc 14.16-19). Dentre os gentios recolhidos, Deus escolherá sacerdotes e levitas (Is 66.21).[11]
A chave para o cumprimento dessas maravilhosas promessas é a vinda de Cristo. O próprio Jesus declarou: “Aqui está o que é maior do que o templo” (Mt 12.6). Jesus falou da reconstrução do templo após três dias (Jo 2.19-22), e João nos diz que Jesus estava se referindo a si mesmo.
Talvez essa passagem de João 2 nos seja tão familiar que a lemos muito rapidamente, sem apreciar seu pleno significado. Podemos pensar: “Não é essa uma interessante figura de linguagem? Jesus refere-se ao seu próprio corpo como um templo. Cristo certamente tem o dom para discursos imaginosos. Podemos aprender muito com ele a respeito do uso de imagens concretas”. Nesse caso, podemos compreender mal o ensinamento. Jesus fala de sua ressurreição como o reerguimento do templo, não por causa de o corpo de alguém ser simbolizado por um templo, mas porque ele é o verdadeiro templo de Deus.
Tudo aquilo que o templo significa, então, é cumprido em Jesus Cristo: a habitação da glória de Deus no santuário, a provisão do sacrifício expiatório no portão; a reunião da congregação onde os louvores e orações de Israel ascendem da santa festividade; a corrente água da vida que vem do limiar da casa – são todas realidades em Cristo.[12]
Por que o cristão evangélico deveria considerar tratar-se de “espiritualização com tendência liberal” a afirmação de que todas essas profecias são cumpridas em Cristo, em quem todas as promessas de Deus são “Sim” – e nós dizemos “Amém” para a glória de Deus (2Co 1.20)? Sabemos que é não “espiritualizar” a oferta pelo pecado dizer que ela foi para sempre cumprida por Cristo. Por que seria considerada perigosa espiritualização asseverar a mesma verdade sobre o templo, a porta e o altar, que afirmamos sobre o sacrifício oferecido ali de uma vez por todas?
Uma vez que Cristo é o verdadeiro templo, não devemos procurar por outro. Quando foi dada ao apóstolo João a visão apoteótica de um novo céu e uma nova terra, e da “Cidade Santa, a nova Jerusalém, que descia dos céus, da parte de Deus, preparada como uma noiva adornada para o seu marido” (Ap21.2), ele relata: “Não vi templo algum na cidade, pois o Senhor Deus Todo-Poderoso e o Cordeiro são o seu templo” (21.22).

Se os judeus fossem algum dia bem-sucedidos em construir um novo templo sobre a rocha em Jerusalém, esse não seria um cumprimento da palavra de Deus, mas uma negação dela e de sua obra, uma negação do Senhor Jesus Cristo – como João a chamaria, a sinagoga de Satanás (Ap 2.9; 3.9). Nenhum outro fundamento pode ser lançado, além do que já foi posto (1Co 3.11). Nenhum outro templo pode ser levantado sobre esse fundamento, senão o que já foi erguido, e no qual todos os santos de Deus, judeus e gentios, estão edificados como pedras vivas (Ef 2.19-22; 1Pe 2.5).

Os pré-milenaristas fazem, com freqüência, a pergunta: “Mas o que vocês me dizem sobre ‘a esperança de Israel’? Isso significa que a compreensão amilenarista da revelação bíblica está roubando a esperança de Israel?” Não, a “esperança de Israel” é a que o eleito de Israel (como também o eleito dos gentios) obteve. Esse é o ensino claro do apóstolo Paulo em Romanos 11.7 – “Israel não conseguiu aquilo que tanto buscava, mas os eleitos o obtiveram.” E essa não é nada menos que a plenitude da salvação de Deus em Jesus Cristo, em quem a promessa da aliança de Emanuel é preeminente e finalmente cumprida: “Serei o Deus deles e eles serão o meu povo” (Jr 31.33).

Quem sabe uma ilustração simples ajude a realçar o ponto de que o cumprimento pode transcender os termos nos quais a promessa é apresentada. Considere um jovem aguardando ansiosamente ser admitido na faculdade. Em recompensa pelo sem bom desempenho na escola secundária, o pai promete dar-lhe algumas “rodas” no seu aniversário, de forma que o rapaz tenha um meio de transporte para o trajeto diário. O filho fica satisfeito, pesando que ganhará uma motocicleta! Chega a manhã do dia do aniversário e o pai pergunta se ele já tinha ido lá fora, na calçada. O filho se apressa a sair, mas não há moto nenhuma lá! Mas algo muito melhor, uma Ferrari esportiva de 200 mil dólares estacionada na calçada. Será que o filho voltaria ao pai para reclamar? Obviamente que não. Essa é uma ilustração bastante materialista, mas por certo que, com respeito à realidade de nossas bênçãos espirituais em Cristo, o cumprimento pela graça de Deus (tanto agora quanto no dia da consumação e estado eterno) transcende em muito os termos nos quais a promessa foi revelada.


fim da parte 2.


[11]
Clowney, “The Final Temple”, p. 105.
[12] Ibid., p. 119.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

AMILENISMO: Parte 2.4 - O reino de Davi

...continuação.

IMPORTANTE
: O texto a seguir é de autoria de Robert B. Strimple, professor de Teologia Sistemática no Westminster Theological Seminary.


Com relação às promessas feitas a Davi, podemos observar primeiramente que Lucas apresenta a vinda de Jesus como o cumprimento dessas promessas (Lc 1.30-33):
Mas o anjo lhe disse: “Não tenha medo, Maria; você foi agraciada por Deus! Você ficará grávida e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado filho do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi, e ele reinará para sempre sobre o povo de Jacó; seu Reino jamais terá fim”.
O reino do Filho maior de Davi deve ser um reino eterno, conforme prometido em 2Samuel 7.16 e Isaías 9.6. Assim como a promessa a Abraão de uma terra perpétua não pode ser cumprida nesta atual terra amaldiçoada pelo pecado, assim também a promessa de um trono eterno para Davi não pode ser cumprida em nenhum ser mortal.
Continue lendo Lucas e você ficará impressionado com as imagens usadas por Maria (v. 46-55) e Zacarias (v. 67-69) em seus louvores a Deus por sua obra redentora. V. p. ex., Lucas 1.52-55, 69-73:
Derrubou governadores dos seus tronos,
Mas exaltou os humildes.
Encheu de coisas boas os famintos,
Mas despediu de mãos vazias os ricos.
Ajudou a seu servo Israel,
Lembrando-se da sua misericórdia
para com Abraão e seus descendentes para sempre,
como disse aos nossos antepassados.
Ele promoveu poderosa salvação para nós,
na linhagem do seu servo Davi
(como falara pelos seus santos profetas, na antiguidade),
salvando-nos dos nossos inimigos
e da mão de todos os que nos odeiam –
para mostrar sua misericórdia aos nossos antepassados
e lembrar sua santa aliança,
o juramento que fez ao nosso pai Abraão...
Esse cântico soa como passagens dos Salmos ou de um dos profetas do Antigo Testamento. Porque Maria e Zacarias falaram desse modo? É porque (como o dispensacionalismo clássico explica) esse Messias veio com a intenção sincera de cumprir a aliança e o juramento feito a Abraão e a promessa dada a Davi; mas por causa da descrença do povo judeu, o reino oferecido teve de se adiado até o futuro milênio, quando o cumprimento das promessas a Abraão e Davi teve de ser adiado? É essa a explicação?
O restante da obra de dois volumes (Lucas-Atos) torna claro que essa não é a resposta. Maria e Zacarias falam como santos da antiga aliança, e essa é a linguagem inspirada pelo Espírito da antiga aliança. Eles são como os profetas anteriores a João Batista, e não poderíamos esperar que falassem na linguagem do apóstolo Paulo. Embora haja, de fato, semelhanças entre as imagens dos apóstolos posteriores, há uma inconfundível coloração veterotestamentária nos cânticos de Lucas 1. Que eloqüente testemunho à autenticidade do registro de Lucas! E que luz valiosa é derramada sobre a natureza das imagens proféticas do AT.

Voltando ao livro de Atos, como o apóstolo Pedro vê o cumprimento da promessa de 2Samuel 7.16? Pela ressurreição de Jesus (veja At 2.30,31):
Mas ele [Davi] era um profeta e sabia que Deus lhe prometera sob juramento que colocaria um dos seus descendentes em seu trono.
Prevendo isso, falou da ressurreição de Cristo...
Esse apoteótico evento redentivo também é visto como cumprimento dos Salmos 2.7; 16.10; e de Isaías 55.3 (veja At 13.32-37):
Nós lhes anunciamos as boas novas; o que Deus prometeu a nossos antepassados ele cumpriu para nós, seus filhos, ressuscitando Jesus, como está escrito no salmo segundo:
‘Tu és meu filho;
eu hoje te gerei’.
O fato que Deus o ressuscitou dos mortos, para que nunca entrasse em decomposição, é declarado nestas palavras:
‘Eu lhes dou as santas e fiéis bênçãos prometidas a Davi’.
Assim ele diz noutra passagem:
‘Não permitirás que o teu Santo sofra decomposição’.
Novamente, esta é a interpretação inspirada da profecia do AT feita pelos apóstolos do NT, que é o guia autorizado de nossa interpretação. Muito instrutivo a esse respeito é o registro do Concílio de Jerusalém, feito em Atos 15. Lemos aí o relatório missionário que Paulo e Barnabé fizeram sobre sua viagem à Fenícia e à Samaria, enquanto falavam perante o conselho de apóstolos e anciãos em Jerusalém (15.3,4) – um surpreendente número de gentios convertidos por meio de sua pregação. Pedro, então, lembra à assembléia que em seu ministério também tem visto tanto gentios quanto judeus salvos “pela fé [...] pela graça do nosso Senhor Jesus” (15.9-11). Quando Tiago fala (15.13-21), ele aponta para a profecia de Amós 9.11,12 como a chave para entender esse surpreendente fenômeno de graça.
Para ver o agudo contraste entre os princípios interpretativos de Tiago e os do clássico pré-milenarismo dispensacionalista, bastante útil é ler a nota das páginas 1120-1121 da
Scofield reference Bible,[9] com o discurso de Tiago. A fim de manter seu princípio do “literal sempre que possível”, Scofield precisa entender as palavras de Amós como uma profecia acerca do que ocorrerá depois do fim da “presente ou eclesiástica era”, (caracterizada por Pedro como a retirada de um povo dentre os gentios para o nome de Deus), quando Deus “restabelecer o governo de Davi sobre Israel” e, afinal, cumprir a aliança davídica com os gentios que nesse tempo também buscarão a Deus.
Mas a interpretação “literal” dessa passagem não pode estar correta. Se essa tivesse sido a força da invocação de Amós por parte de Tiago, isso teria feito o argumento do apóstolo irrelevante para o assunto em discussão. Nessa interpretação, Tiago declarou ao conselho que eles não deveriam ficar confusos ou perturbados pelo relatório de Simão Pedro acerca dos gentios trazidos a Deus, porque os profetas haviam predito que era exatamente isso o que aconteceria
durante o milênio. Um ancião presente nesse concílio poderia muito bem ter respondido: “Está tudo muito certo, Tiago, mas o que estamos buscando é uma compreensão escriturística do que está acontecendo na igreja justamente agora”.
E é exatamente isso que Tiago diz a eles e a nós pelo Espírito. Ele vê Amós 9.11,12 sendo cumprido justamente ante seus olhos, por assim dizer. As palavras introdutórias “depois disso” devem ser entendidas a partir da perspectiva do profeta; no contexto de Amós, a referência é em relação ao que Deus realizará pela graça redentora após o tempo do exílio. Em sua nota, Scofield chama o discurso de Tiago “dispensacionalmente [...] a passagem mais importante do NT”. Do ponto de vista da percepção a nós provida pela interpretação correta da profecia veterotestamentária, essa passagem realmente é muito importante, pois observa bem o que está acontecendo aqui:
A aplicação profética de Tiago encontra o cumprimento de sua primeira parte (a reconstrução do Tabernáculo de Davi) na ressurreição e glorificação de Cristo, o Filho de Davi, e na constituição de seus discípulos como o novo Israel, e o cumprimento de sua segunda parte na presença de crentes gentios bem como judeus na igreja.[10]
Podemos dizer que Tiago, o irmão de nosso Senhor e principal ancião de igreja de Jerusalém, estava “espiritualizando” a profecia do AT de um modo perigoso ou mórbido? Claro que não. Então como pode tal acusação ser dirigida aos amilenaristas, quando eles buscam compreender a profecia do AT, precisamente da mesma maneira cristocêntrica adotada por Tiago?

continua...


[9]
Primeira edição em português pela Sociedade Bíblica do Brasil em 1983 – São Paulo.
[10] F. F. Bruce, Commentary on the book of Acts, NICNT, Grand Rapids: Eerdmans, 1981, p. 310.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

AMILENISMO: Parte 2.3 - A santa cidade de Jerusalém

...continuação.

IMPORTANTE: O texto a seguir é de autoria de Robert B. Strimple, professor de Teologia Sistemática no Westminster Theological Seminary.

Quando pensamos o que o NT diz com respeito à santa cidade de Jerusalém, o texto de Hebreus 12.18-24 nos vem imediatamente à mente: “Vocês não chegaram ao monte que se podia tocar [...] Mas vocês chegaram ao monte de Sião, à Jerusalém celestial, à cidade do Deus vivo [...]”. Talvez tenhamos lido os versículos 18-21 desse capítulo pausadamente, dando um profundo suspiro de alívio e pensando: “Estou muito feliz por não ir a uma montanha como aquela! Eu não poderia possuí-la. Essa é uma questão muito séria. Aquela foi uma cena terrível. Fogo, escuridão, nuvens e tormenta; o som da trombeta, a própria voz de Deus, morte para um passo em falso. O próprio Moisés, o líder com quem Deus havia falado face a face, estava tremendo de medo”.
Mas se reagirmos dessa maneira, deixamos escapar o ponto essencial do argumento do escritor. Ao continuarmos a leitura (v. 22-29), vemos que seu ponto é que – se a realidade da experiência inaugurativa da antiga aliança foi tão apavorante e a penalidade por considerá-lo levianamente e desrespeitar as advertências do Deus que lhes falou desde o Sinai – era coisa realmente séria, quão mais temível é a experiência do cristão da nova aliança. Maiores ainda serão as conseqüências eternas de voltar as costas para Deus, o qual revelou-se a si mesmo muito mais plena e claramente em seu Filho, o mediador da nova aliança. Não viemos a uma montanha criada – e isso era tudo o que o monte Sinai representava naquela assustadora ocasião da entrega da nova aliança. Não chegamos ao lugar santíssimo no tabernáculo ou do templo terreno. Viemos ao verdadeiro Lugar Santíssimo, à presença do próprio Deus! Viemos ao trono celestial de Deus, o verdadeiro e eterno monte Sião.
Agora, em certo sentido, estamos ainda esperando pela Jerusalém celestial. “Mas buscamos a [cidade] que há de vir” (Hb 13.14). O dia da consumação, a plena manifestação da Jerusalém celestial, ainda está à frente (Ap 21). Agradecemos, porém, a Deus porque em um sentido preliminar, mas real, chegamos já a essa cidade. “Mas vocês chegaram ao monte Sião, à Jerusalém celestial, à cidade do Deus vivo” (Hb 12.22, grifo do autor).
A distinção bíblica entre a Jerusalém terrestre e a celestial não é entre o “literal” e o “espiritual”, usando “espiritual” no sentido de não-literal. É a diferenciação entre a cópia e a coisa real. Veja Hebreus 9.23,24, onde lemos que os elementos no tabernáculo terrestre de Moisés eram simplesmente cópias do santuário celeste, onde está a própria presença de Deus. O divino é o verdadeiro, o artigo genuíno.
Pense na ênfase de João sobre o “verdadeiro” em seu Evangelho. Jesus é a videira verdadeira, a verdadeira luz, o verdadeiro pão. Jesus é a realidade para a qual apontavam a videira na parede do templo, a luz no candelabro e o pão consagrado no santuário.
Talvez possamos usar os termos que Paulo utiliza em 1Coríntios 15.44-46, natural e espiritual, em que a ordem histórica do primeiro homem (Adão) e do segundo homem (Cristo) também realça um princípio geral: “O espiritual não veio primeiro, mas o natural e depois o espiritual”. Realidades espirituais são tão “literais” quanto são reais os fenômenos naturais. Por exemplo, o corpo de ressurreição do crente é chamado “um corpo espiritual” no versículo 44, não para sugerir que faltará realidade ou substância, mas antes para enfatizar que já não será fraco, mortal e perecível, porque será o corpo elevado, perfeitamente formado e controlado pelo Espírito do ressurreto e imortal Cristo.
Também pense sobre como Paulo fala da verdadeira Jerusalém em Gálatas 4.25,26: “Hagar representa o monte Sinai, na Arábia, e corresponde à atual cidade de Jerusalém, que está escravizada com seus filhos. Mas a Jerusalém do alto é livre, e é a nossa mãe”.
Em Apocalipse 14.1, João vê o Cordeiro “sobre o Monte Sião”. As antigas profecias de Isaías 2.2-4 e Miquéias 4.1-3 de “muitos povos” de “todas as nações” fluíram para Jerusalém, não serão cumpridas durante o futuro milênio por peregrinações terrenas a uma cidade da terra. Louvado seja Deus porque essa bendita profecia está sendo cumprida agora, quando homens e mulheres de toda tribo da face da Terra invocam o nome do Rei de Sião, e se tornam cidadãos da “Jerusalém do alto”, a mãe de todos os que estão em Cristo pela fé.
Assim, é significativo que Jesus não leve a mulher que encontrou junto ao poço, do monte Gerizim (lugar onde os samaritanos adoravam) a Jerusalém (lugar onde os judeus adoravam). Antes, Cristo a leva a ele próprio.[8] Observe a ênfase sobre o “verdadeiro” em João 4.23-26:
No entanto, está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade.
São estes os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.
Disse a mulher: “Eu sei que o Messias (chamado Cristo) está para vir. Quando ele vier, explicará tudo para nós”.
Então Jesus declarou: “Eu sou o Messias! Eu, que estou falando com você”.
O verdadeiro templo da verdadeira Jerusalém fornece água viva e verdadeira. Foi dada ao profeta Ezequiel (Ez 47.1) a visão da água fluindo do templo, do lado sul do altar, de forma que “onde o rio fluir tudo viverá” (47.9). A mulher de Samaria, porém, não recebeu uma visão ou fotografia, mas a realidade. Jesus diz (João 4.10, 14):
Se você conhecesse o dom de Deus e quem lhe está pedindo água, você lhe teria pedido e ele lhe teria dado água via [...] mas quem beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede. Ao contrário, a água que eu lhe der se tornará nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna.
Quando pensamos no significado de Jerusalém como a capital divinamente escolhida do povo da aliança, também cogitamos a respeito do trono de Davi e do templo.

continua...

[8] Edmund P. Clowney, The Final Temple, em Studying the New Testament today, (org.) John H. Skilton (Philadelphia: Presbiterian and Reformad, 1974), p. 118. Esse eloqüente e abrangente estudo também pode ser encontrado em Westminster Theological Journal 35 (Winter, 1973), p. 156-89.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

AMILENISMO: Parte 2.2 - Canaã, a Terra Prometida

...continuação.

IMPORTANTE: O texto a seguir é de autoria de Robert B. Strimple, professo de Teologia Sistemática no Westminster Theological Seminary.

Aprendemos no NT que Canaã, a terra da promessa, não era senão um tipo da mais plena e rica herança que é de Abraão e de todos os seus descendentes em Cristo: todo o mundo, céus e terra, renovados e restaurados em justiça (2Pe 3.13), como o lar divino da nova raça de homens e mulheres em Cristo Jesus, o segundo Adão.
Em Romanos 4.13, por exemplo, lemos: “Não foi mediante a Lei que Abraão e a sua descendência receberam a promessa de que ele seria herdeiro do mundo [gr. kosmos], mas mediante a justiça que vem da fé”. Onde, no AT, você encontra a promessa a que Paulo faz referência aqui? Em nenhuma parte, se você insistir no sentido literal estrito. Mas você a encontra em Gênesis 17.8 (“Toda a terra de Canaã [...] darei como propriedade perpétua a você e a seus descendentes”), se você entende que essa é a interpretação apostólica inspirada da promessa do AT que Paulo está nos fornecendo aqui. O ponto a ser lembrado sempre é que essa é uma interpretação apostólica inspirada, oficial e normativa para nós.[7]
Hebreus 11 (especialmente os versículos 10-16) também faz reflexões sobre a prometida herança de Abraão. Essa passagem fala do que é celestial. Mas isso não nos deve levar à contestação de que a herança de Abraão não seja também terrena; e como tal, ela não é prometida a Abraão e aos seus descendentes por mil anos apenas. Isaías, Pedro e João falam dessa herança em termos de “um novo céu e uma nova terra”. O futuro lar de Cristo e de seu povo será tanto terreno quanto celeste.
O amilenarismo é, com freqüência, acusado de ignorar o fato de que há profecias a respeito da restauração e da renovação da terra que ainda devem ser cumpridas. Mas o amilenarismo não as ignora. Simplesmente reconhece que elas precisam ser compreendidas (à luz de Is 65.17; 66.22; Pe 3.13; Ap 21.1), em termos de um novo céu e uma nova Terra. Elas retratam o que realmente será terreno, porém, eterno – não meramente por mil anos. A abrangência da realização redentiva de Cristo será verdadeiramente cósmica e tão completa e perfeita para o ambiente humano quanto para os próprios seres humanos.

continua...

[7] À luz de Romanos 4:13, é significativo que quando Paulo cita Êxodo 20:12 em Efésios 6:3, ele omite a referência específica a Canaã (“que o Senhor, o teu Deus, te dá”), ampliando assim a promessa.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

AMILENISMO: Parte 2.1 - O verdadeiro Israel

...continuação

IMPORTANTE: O texto a seguir é de autoria de Robert B. Strimple, professor de Teologia Sistemática no Westminster Theological Seminary.

O verdadeiro Israel é Cristo. Ele é o Servo sofredor do Senhor, aquele que é – maravilha das maravilhas – o próprio Deus! Retorne, por exemplo, a Isaías 41. Por certo o santo do AT, quando estudava o “cântico do servo” de Isaías, ficava confuso. Comentaristas judeus atuais ficam embaraçados. Ali Israel é chamado por Deus de seu escolhido (41.8,9). Mas, no capítulo 42, versículos 1-7, o Senhor diz:
Eis o meu servo, a quem sustento.
O meu escolhido, em quem tenho prazer.
Porei nele o meu Espírito
e ele trará justiça às nações.
Não gritará nem clamará [...]
Eu o guardarei e farei de você
um mediador para o povo
e uma luz para os gentios,
para abrir os olhos aos cegos,
para libertar da prisão os cativos
e para livrar do calabouço os que
habitam na escuridão
Isso se refere a uma nação que é vista como serva do Senhor, ou trata-se agora de um indivíduo, o Messias?
Sabemos como esses versículos de Isaías 42 são interpretados nos Evangelhos – como cumpridos em Jesus Cristo. Note, porém, como Isaías prossegue em 44.1,2,21; 45.4:
Mas escute agora, Jacó, meu servo,
Israel, a quem escolhi.

Assim diz o Senhor –

aquele que o fez, que o formou no ventre,

e que o ajudará. Não tenha medo, ó Jacó,

meu servo,

Jerusum, a quem escolhi [...]

Lembre-se disso, ó Jacó,

Pois você é meu servo, ó Israel [...]

Por amor de meu servo Jacó,

De meu escolhido Israel,

eu o convoco [Ciro; veja os versículos antecedentes e subseqüentes]

pelo nome...
Se continuássemos lendo Isaías, veríamos o movimento de um lado para outro e a causa da perplexidade – declarações evidentes de que a nação de Israel é a serva do Senhor, mas também sugestões veladas de que o servo é um indivíduo. Talvez o próprio Isaías tenha ficado confuso. Lembre-se de como Pedro falou dos profetas “procurando saber o tempo e as circunstâncias para os quais apontava o Espírito de Cristo...” (1Pedro 1.10-12).[5]
Como a reposta poderia ser clara antes do nascimento de Cristo? Sim, Israel foi chamado para ser servo de Deus, uma luz para iluminar as nações e glorificar o nome de Deus. Mas uma vez que o povo escolhido foi infiel ao seu chamado e falhou em cumprir os propósitos de sua divina eleição, o Senhor designou seu próprio eleito, seu servo, seu verdadeiro Israel.

Em Mateus 2.15, o evangelista vê Oséias 11.1 cumprido na fuga da sagrada família para o Egito e seu retorno por mim: “Do Egito chamei meu filho”. Alguns críticos consideram que essa é uma exegese alegórica sem embasamento e completamente arbitrária da parte de Mateus; que ele toma como referência uma menção claramente referente a Israel (e ela é, de fato; leia o contexto em Oséias 11), e aplica esse texto a Cristo. Esse é, obviamente, um uso extravagante dessa Escritura, diz o crítico. Mas o cristão conhece melhor, porque ele sabe que Cristo é o verdadeiro Israel de Deus, aquele em quem a história de Israel é passada em revista e em quem os propósitos de Deus alcançam seu cumprimento.

Dado que Cristo é o verdadeiro Israel, a verdadeira semente de Abraão, nós que estamos em Cristo pela fé e pela operação de seu Espírito, somos o verdadeiro Israel, o Israel da fé, e não meros descendentes naturais. Paulo escreve em Gálatas 3.7-9, 26,27,29:
Estejam certos, portanto, de que os que são da fé, estes é que são filhos de Abraão. Prevendo a Escritura que Deus justificaria os gentios pela fé, anunciou primeiro as boas novas a Abraão: “Por meio de você todas as nações serão abençoadas. Assim, os que são da fé são abençoados junto com Abraão, homem de fé [...]
Todos vocês são filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus, pois os que em Cristo foram batizados, de Cristo se revestiram [...] E se vocês são de Cristo, são descendência de Abraão e herdeiros segundo a promessa.
Muitas vezes, ao meditarmos sobre essa maravilhosa verdade, omitimos esse importantíssimo elo, que é o próprio Cristo, na corrente de redenção. Dizemos: “Sim, a nação de Israel era o povo de Deus na antiga aliança. Agora, na nova aliança, a igreja cristã é o povo de Deus”. E assim passamos por alto (ou não entendemos plenamente o significado essencial) o fato de que nós cristãos somos o Israel de Deus, a semente de Abraão e os herdeiros das promessas, só porque pela fé estamos unidos àquele que é, exclusivamente, o verdadeiro Israel, a semente de Abraão (note a ênfase de Paulo sobre o singular, em Gl 3.16). Nós participamos das bênçãos prometidas a Israel apenas porque, pela graça de Deus, estamos naquele que é o Israel eleito de Deus, e pela graça de Deis essas bênçãos são estendidas aos que estão unidos a Cristo pela fé.[6]
O texto de Hebreus 8 e 10 apresenta grande dificuldade aos intérpretes pré-milenaristas (conduzindo a uma variedade de explicações), porque o escritor cita ali a profecia da nova aliança de Jeremias 31.31-34, e parece dizer claramente que a nova aliança profetizada por intermédio de Jeremias é o melhor porque está fundamentada em melhores promessas, das quais nosso Senhor Jesus Cristo é o mediador (8.6), e que está em vigor agora, trazendo bênçãos a judeus e gentios. Muitos pré-milenaristas, entretanto, insistem em que essa nova aliança não é cumprida (pelo menos não plenamente) como aliança divina com sua igreja agora, mas será realizada durante o milênio. Por quê? Porque Deus diz em Jeremias (também citado em Hb 8.8) que essa nova aliança será feita “com a casa de Israel e com a casa de Judá”. Os judeus, em sua maioria, não estão usufruindo os benefícios da nova aliança agora.

Mas não há uma boa razão para nos embaraçarmos com essa passagem. Sim, a nova aliança é feita “com a casa de Israel e com a casa de Judá”. Louvado seja Deus porque em união com o Filho de Deus, o verdadeiro Israel, somos membros dessa casa. O apóstolo Paulo escreve em Filipenses 3.3: “Pois nós é que somos a circuncisão, nós que adoramos pelo Espírito de Deus, que nos gloriamos em Cristo Jesus e não temos confiança alguma na carne”.


continua...


[5]
Lembre-se também da perplexidade do eunuco etíope quando inquirido por Filipe: “Diga-me, por favor: de quem o profeta está falando? De si próprio ou de outro?” (At 8:34).
[6] Um exemplo da falha em tornar claro esse todo-importante elo é encontrado na declaração de Stanley Grenz sobre a posição amilenarista: “Com base no princípio hermenêutico da prioridade do Novo Testamento, os amilenaristas concluem que as promessas originalmente dadas a Israel são cumpridas na Igreja” (The millenial maze, [Downers Grove, Ill.: InterVarsity, 1992], p. 155). Precisamos reconhecer que as promessas são cumpridas em Cristo e assim naqueles que estão em união com ele pela fé.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

AMILENISMO: Parte 2 - CRISTO: O TEMA DA PROFECIA DO ANTIGO TESTAMENTO

IMPORTANTE: O texto a seguir é de autoria de Robert B. Strimple, professor de Teologia Sistemática no Westminster Theological Seminary.

No AT existem passagens que falam sobre um tempo vindouro de paz mundial e justiça, uma época quando o templo será reconstruído; o sacerdócio, restabelecido, e os sacrifícios, novamente oferecidos (por exemplo, Sl 72.7-11; Is 60.10-14; Ez 37.24-28; 40-48). Os pré-milenaristas insistem que essas passagens devem ser interpretadas “literalmente” (exatamente o que se requer em cada ponto é uma questão debatida entre eles), e que elas se referem às condições que ocorrerão no milênio, o reino milenar que Jesus estabelecerá na Terra em sua segunda vinda, com sua capital em Jerusalém, o templo reconstruído, o sacerdócio restabelecido,[2] os sacrifícios de animais novamente oferecidos, e o trono de Davi outra vez erigido. A cada sábado, Cristo, o príncipe, adentrará o tempo pelo portão oriental, enquanto os sacerdotes oferecem em holocausto seis cordeiros sem mancha e um carneiro, como também ofertas de comunhão (Ez 46). O povo, uma vez mais, será ensinado em distinguir entre o limpo e o imundo, e a circuncisão da carne – e a do coração – será outra vez exigida (Ez 44.23, 9). Desse modo, a adoração no reino messiânico presenciará um retorno daqueles elementos que eram centrais sob a antiga aliança.
Mas seria correto interpretar essas profecias do AT como descrições do futuro reino milenar que Cristo estabelecerá na terra em sua segunda vinda? Para responder a essa indagação, a pergunta crucial que o cristão precisa fazer, naturalmente, é esta: Como o Novo Testamento nos ensina a interpretar tais passagens? Pela inspiração do Espírito Santo, essa revelação pós-ressurreição, pós-pentecostal, que é absolutamente autorizada, um guia infalível em todos os assuntos de fé e de vida, inclusive essa matéria, de vital importância, de como interpretar a profecia do AT foi dada à Igreja de Cristo no NT.
À medida que lemos o NT, entendemos que os profetas do AT falaram das glórias do tempo messiânico – aquela era inaugurada por Cristo e na qual a igreja agora vive – em termos de sua própria era das bênçãos religiosas do povo de Deus da época da antiga aliança. Os aspectos centrais dessas bênçãos são os conceitos do povo de Israel, da terra de Canaã, da cidade de Jerusalém, do templo, dos sacrifícios e do trono de Davi.
É uma característica necessária da comunicação efetiva que todos experimentamos e compreendemos, que quando desejamos escrever a um amigo algo que ele nunca experimentou ainda, fazemo-lo mediante recursos que ele já conhece. Para comunicar ao povo de Deus que vivia sob a antiga aliança, os profetas inspirados pelo Espírito falaram das bênçãos que Deus derramaria sob a nova aliança em termos de imagens tipológicas familiares aos santos da antiga aliança.[3]
Para um judeu zeloso que não havia recebido Cristo, para quem o véu permanecia baixado onde quer que a antiga aliança fosse lida (2Co 3.14), tal princípio de interpretação profética, como pré-milenarista que diz que devemos interpretar “literalmente sempre que possível” a profecia do AT, é comprensível. Infelizmente, o judeu sionista, por exemplo, não possui outro princípio interpretativo significativo com o qual trabalhar. Mas nós, crentes que vivemos à plena luz da revelação do NT, a revelação do Cristo de Deus, não tiraremos vantagem disso? Não percebemos que aquilo que está oculto no AT é revelado no NT (como Agostinho disse)? Que aquilo que está contido no AT é explicado no NT? Não foi o apóstolo Paulo, por inspiração do Espírito Santo, que nos disse algo importante quando falou sobre a leitura do AT com um véu sobre nossa compreensão, até que possamos entender à luz da revelação do cumprimento mediante Cristo Jesus?
Todo cristão evangélico está acostumado a ver sacrifícios, as festas e as cerimônias do AT como tipos, isto é, ferramentas pedagógicas que apontam para a obra de Cristo. Por que, então, os elementos que consideraremos agora – a terra de Canaã, a cidade de Jerusalém, o templo, o trono de Davi, a própria nação de Israel – não poderiam ser compreendidos à luz da mesma percepção interpretativa utilizada para os sacrifícios e as cerimônias?
Mas não se trata de isso parecer lógico, ou não, para nós. O fato é que o NT nos ensina que é assim precisamente como deveríamos compreender tais elementos nas profecias do AT. E com respeito a qualquer tipo – quer seja ele um sacrifício, uma festa, o templo, quer a terra –, quando a realidade é apresentada, a sombra desaparece. E não desaparece para ser restaurada no futuro, mas porque foi cumprida em Jesus Cristo! Não falamos sobre isso como uma interpretação “espiritualizada” dos sacrifícios ou dos rituais do AT, usando esse termo em sentido negativo como se negássemos sua realidade de alguma forma. Vemo-lo como um cumprimento daquilo que os sacrifícios e as cerimônias expressavam. Por que deveriam ser considerados de algum modo diferentes, com relação a esses cinco elementos que vimos há pouco? Vemos no NT o verdadeiro significado de todos os tipos do AT, e a figura central na profecia bíblica é o Senhor Jesus Cristo. Cristo, e não o povo hebreu, é o tema dos profetas do AT.[4]

continua...

[2] Várias tentativas foram feitas pelos pré-milenaristas para harmonizar as diferentes imagens dadas pelos profetas com referência àqueles dentre os quais o sacerdócio restaurado será escolhido, se os levitas (Jr 33:18), se os filhos de Zadoque apenas (Ez 40:46; 43:19; 44:15), ou se todas as nações (Is 66:20,21).
[3] Para discussões acerca deste princípio, v. os trabalhos clássicos de Patrick Fairbairn: The interpretation of prophecy (Londres: Banner of Truth Trust, reimp. 1964 [1856]); The typology of Scripture (Grand Rapids: Zondervan, 1975); An exposition of Ezekiel (Wilmington, Del.: National Foundation for Christian Education, 1969). Um pequeno e interessante volume intitulado The prophetic prospects of the Jews or Fairbairn versus Fairbairn (Grand Rapids: Eerdmans, 1930), que consiste em duas conferências feitas por Patrick Fairbairn, com uma diferença de 25 anos entre elas. Na parte 1 (1839), Fairbairn defende um literalismo rígido na interpretação da profecia do AT (esse é o literalismo do pós-milenarismo, em vez do pré-milenarismo). Com relação a Oséias 1, por exemplo, Fairbairn insiste que “não há aqui lugar para equívocos com relação a quem são os próprios sujeitos da profecia, porque são chamados pelos nomes de ‘filhos de Judá e filhos de Israel’, os dois ramos distintivos da nação judaica” (p. 21). Em uma nota de rodapé, ele chama as referências em 1Pe 2:10 e Rm 9:24-26 aos gentios convertidos, como cumprimento da profecia de Oséias, “uma extensão de seu significado, além da literal e primária significação”. Na parte 2 (1864), porém, Fairbairn reconhece quão arbitrária e insubmissa à instrução do Novo Testamento tal declaração é. Ele agora insiste que a profecia simplesmente deve ser lida “como uma história escrita anteriormente” (e assim de acordo com o estrito literalismo), “o princípio hebreu [como oposto ao cristão] de interpretação profética” (p. 91-2).
Surpreendentemente, The new Scofild reference Bible (New York: Oxford University Press, 1967) sugere que a profecia de Ezequiel de sacrifícios oferecidos novamente no Novo Templo “não será considerada literalmente [...] mas ceramente será considerada como uma apresentação da adoração dos remidos em Israel [...] usando as condições com que os judeus estavam familiarizados nos dias de Ezequiel” (p. 888). Fairbairn não poderia ter dito isto melhor! Anthony A. Hoekema faz a pergunta óbvia: “Se os sacrifícios não devem ser tomados literalmente, por que deveríamos considerar o templo literalmente? [...] uma pedra fundamental crucial para todo o sistema dispensacionalista foi aqui posta de lado!” A Bíblia e o futuro (São Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1989, p. 273).
[4] George L. Murray, Millenial Studies (Grand Rapids: Baker, 1948),p. 57.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

AMILENISMO: Parte 1 - Introdução

A partir de agora irei postar uma série de estudos a respeito do amilenismo, bem como das passagens mais relevantes para o perfeito entendimento da questão do milênio. Tenham uma ótima leitura.

Atenciosamente, MAC.

IMPORTANTE: O texto a seguir é de autoria de Robert B. Strimple (foto à direita), professor de Teologia Sistemática no Westminster Theological Seminary.

Embora os cristãos hoje possam pensar sobre as designações pré-milenarismo, pós-milenarismo e amilenarismo tradicionais, elas são realmente de origem bastante recente, quando comparadas com a grande extensão da história da igreja. O termo amilenarismo é amplamente usado desde a década de 1930, ainda que, ao ser usado pela primeira vez, permanecesse um mistério. Mas como observou Louis Berkhof, conquanto “o nome seja de fato novo [...] o conceito ao qual é aplicado é tão antigo quanto o cristianismo”.[1] Neste capítulo, concentraremos nossa atenção não sobre a história da igreja, mas sobre as considerações bíblicas que têm levado muitos cristãos ao longo dos séculos a rejeitarem o milenarismo, tanto o pré-milenarismo quanto o pós-milenarismo.
A palavra “escatologia” provém das palavras gregas para “as últimas coisas” (eschatos) e “estudo” (logos), mas precisamos reconhecer que sob a ótica dos escritores do Novo Testamento, os “últimos dias” da história redentiva foram inaugurados pela ressurreição e glorificação de Cristo, e o derramamento pentecostal do Espírito Santo (At 2.16-21, “os últimos dias”; 1Co 10.11, “o fim dos tempos”; Hb 1.1,2, “nestes últimos dias”; 1Pe 1.20, nestes últimos tempos”). O todo da revelação redentiva de Deus está estruturado em termos de promessa (AT) e cumprimento (NT) e, por conseguinte, um sumário plenamente adequado da escatologia bíblica precisa considerar o ensino de toda a Bíblia!
Neste capítulo, focalizaremos dois fatores essenciais: 1) a instrução que recebemos do Novo Testamento com relação à interpretação correta da profecia do AT, e 2) o ensino do NT referente à segunda vinda de Cristo e os eventos que a acompanharão. Sob esse pano de fundo, veremos então duas passagens consideradas com freqüência como de especial significado: Romanos 11 e Apocalipse 20.1-10.

[1] Teologia sistemática, 6 ed., Campinas: Editora Cultura Cristã 1990, p. 653. V. os comentários de R. B. Gaffin Jr., em Theonomy: A reformed critique, edits. W. S. Barker e W. Robert Godfrey (Grand Rapids: Zondervan, 1990), p. 197-202.
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